Após uma primeira temporada um tanto irregular, mas promissora, chega a segunda temporada de Titãs. Pessoalmente, lia as estórias dos Titãs desde criança. Eram muito boas, com algumas sagas realmente bem escritas e surpreendentes, tratando de muitos temas adultos como dependência de drogas, traumas familiares, crescimento. Os desenhos animados dos últimos anos trouxeram os Titãs de volta com força, por um outro viés. Animações divertidas ajudaram a popularizar esses heróis para as novas gerações. Inteligentemente, a Netflix veio com essa produção, com estilo mais adulto, violento, bem diferente dos últimos desenhos. Todavia, com algo de extrema relevância: a essência do grupo está lá.
E isso não é pouca coisa, pois os Titãs nunca se resumiram somente a herói conta vilão. Havia personagens complexos, buscando seus lugares no mundo, passando pelas mudanças da adolescência, tendo de lidar com responsabilidades inesperadas e perdas inevitáveis. A série tem violência, sangue, sofrimento, problemas de família, dúvidas, boas lutas, problemas com drogas, conspirações, traições, demônios. Ou seja, tudo aquilo que fez dos quadrinhos dos anos 80 e 90 algo especial.
A segunda temporada começa relativamente bem. O episódio inicial é o fechamento da primeira temporada. É mais um último do que um primeiro. Tem bons momentos de terror, desesperança, superação, contudo, o que deveria ser o clímax, passa num piscar de olhos. Tal fato deixa uma certa frustração. Porém, para contrabalancear, vem o gostinho de um dos maiores vilões do universo DC, e arqui-inimigo dos Titãs, o Exterminador.
Jorah Mormont, o Cavaleiro das Trevas
O segundo episódio traz uma nova personagem, mais recente, dos Titãs. E um velho conhecido, o mestre do Robin, ganhando vida pela competência de Ian Glen (Sor Jorah Mormont de Game of Thrones). Ele interpreta com a postura necessária, o Cavaleiro das Trevas, já mais velho, auxiliando um Dick Grayson que busca novos caminhos, não mais como um sidekick, e sim, como tutor da nova geração.
Jason Todd (Curran Walters) continua se destacando, com seu jeitão arrogante, acaba sendo carismático e peça-chave na convivência – e nas confusões – dos Titãs. Sua inconsequência traz… consequências. Ainda mais no terceiro e bom episódio, onde vemos curiosas interações entre os membros da equipe e boas cenas na sala de treino. Enquanto o quarto começa com uma sequência ao som de jazz que mostra uma enorme habilidade de matar com eficiência. Além disso, nesse capítulo vemos um pouco dos velhos Titãs em seu auge. É um dos melhores da temporada – talvez o melhor mesmo – cheio de situações que despertam emoções no espectador, uma alegria em conhecer mais sobre os personagens e suas interações, e prováveis lágrimas nas pesadas perdas. O roteiro e a direção conseguem nos fazer sentir próximos daquela família.
Além disso, temos Aqualad (Drew Van Acker), o Atlante. Ele e Donna Troy (Conor Leslie) são as maiores estrelas desse emocionante quarto episódio. Em seguida, o quinto segura bem e volta ao presente fazendo um link com o passado mostrado no anterior e o resultado de algumas decisões tomadas. É tenso, com traumas ressurgindo, sentimentos guardados e acumulados. O tema da vingança salta fortemente.
Superboy e Krypto
Certamente, o sexto era um dos mais esperados, pois traz o aguardado Superboy ao lado do cão Krypto. A sequência de ação no Kansas é ótima e vemos a dicotomia presente no personagem. Uma criança imprevisível e poderosa. O sétimo vem com uma – como dizer? – entusiasmada e divertida, atuação de Ian Glen. Só por ele já vale o episódio. No oitavo temos a oportunidade de conhecer Jericó e sua bonita conexão com os Titãs. Assim como descobrimos mais das motivações do Exterminador (Esai Morales). Acaba sendo legal a mistura de estórias clássicas dos Titãs com algumas mais recentes, de uma outra geração. Inclusive, Chella Man, o ator que traz vida a Jericó, é também modelo, YouTuber, e conhecido por compartilhar suas experiências como transgênero e surdo. É um ativista pela casa LGBT e pelos direitos Trans.
No geral, a produção respeita bastantes os quadrinhos, todavia, grandes sagas são resumidas em poucos episódios (até em um só), o que não é necessário. É uma série, não um filme. É possível utilizar o tempo de forma mais adequada. Então, a partir do nono, as coisas começam a desandar. O que poderia ser um fim de temporada bem conduzido, vai se perdendo entre falhas de roteiro, soluções fáceis, bobeiras. Ainda restam alguns bons momentos, contudo, no geral, decepciona. O epílogo para a próxima temporada tampouco empolga.
A saber, a terceira temporada está confirmada. Existem muitas boas possibilidades, e, se focarem no que deu certo, as interações e a evolução dos personagens, o contexto de uma família de desgarrados, tem tudo para ter vida longa. Vamos, Titãs!