Acaba de entrar em cartaz o novo filme de Halder Gomes: “Vermelho Monet”. Uma co-produção entre Brasil e Portugal, ambientada no país lusitano, cuja trama aborda o poder sublime da criação artística e o incessante embate entre mercado e distinção artística
Na história, Johannes Van Almeida (Chico Díaz) é um pintor que vive em um ostracismo e bloqueio artísticos. Isso, devido a uma acromatopsia que faz com que ele enxergue apenas tons acinzentados e a um menosprezo do mundo artístico por sua obra. Afinal, ele recém saiu da prisão por falsificação de obras de arte.
Paralelamente, a marchand Antoinette Lefèvre (Maria Fernanda Cândido), que já foi cúmplice do pintor, está em busca de realizar a venda de uma pintura sublime. Que fará com que seu nome seja eternizado no mercado da arte. Ela também está deslumbrada pela jovem atriz Florence Lizz (Samantha Müller), que coincidentemente acaba se tornando um resquício de chamariz de inspiração para Johannes, após um casual encontro em um café.
Arte e inspiração
Johannes é apresentado como um dos últimos pintores clássicos por excelência, ainda vivos e (de certa forma) em atividade. Isso quer dizer que ele pode ser visto ao mesmo tempo como tradicional e ultrapassado, por pintar sempre musas nuas, e também como legítimo e profundo, por não se render às tendências contemporâneas da arte.
Esse contraste é presente entre o pintor e a marchand. Por mais que ela apresente uma predileção pessoal pela arte figurativa, sua posição como negociante de arte a coloca como partidária da arte minimalista contemporânea. Enquanto ela é apresentada como sofisticada e em lugares modernos, ele é mais rústico e frequenta lugares mais bucólicos e tradicionais.
Arte e mercado
Esse embate entre ambos personagens sintetiza a narrativa e o tema do filme. O que é mais importante? Abrir mão de valores próprios em busca de um objetivo? Ou persegui-lo sem nenhuma flexibilidade, mesmo que isso torne o objetivo praticamente inalcançável? Afinal, qual é o preço que se deve pagar pela beleza sublime?
Afinal, esse conflito está presente, também, nas cores. A cor vermelha é a grande impulsão da motriz criativa de Johannes. Mas, no filme, a cor azul surge como subjugador do vermelho. A frieza das tendências artísticas regidas pelo mercado subordinam a forma e a criação artística a atender os anseios de comerciantes ricos e vaidosos que veem arte como símbolo de status.
Vermelho Monet
Johannes sempre foi fascinado pela cor vermelha. Vemos, por meio de flashbacks, que sua grande inspiração é sua musa e grande amor, Adele (Gracinda Nave), cujos cabelos intensamente ruivos remetem ao de Florence. Ou seja, a paixão por algo que move o que realmente importa, embora, seja cada vez mais difícil de enxergar isso na sociedade moderna.
Se, aparentemente, o filme pode parecer longo, ele tem o ritmo adequado para uma progressão crescente que vai envolvendo o espectador. Mas, em uma trama que explora bem as dualidades paixão x razão e cinismo x utopia, algumas partes acabam sendo pouco desenvolvidas, como a ambição da Florence em relação ao seu primeiro trabalho como atriz em uma produção portuguesa, cuja escolha é questionada pela imprensa.
Onde assistir
Halder Gomes nos entrega em “Vermelho Monet”, um filme visualmente explêndido, apesar de alguns pontos soltos na narrativa, o que não compromete a obra final. A princípio esse é o primeiro filme de uma trilogia que o diretor pretende realizar sobre pintura.
A distribuição é da Pandora Filmes. O filme está em cartaz nos cinemas. Dessa forma, consulte a rede de cinemas de sua cidade para encontrar sessões disponíveis.