Continua nossa cobertura da 4ª edição do Women’s Music Event RMX 2020, evento voltado para a cadeia produtiva feminina na música brasileira. Destacamos os pontos altos do primeiro dia do evento, 18 de setembro.
O mercado das lives
Em tempos de confinamento, muitos artistas tiveram de se reinventar. Assim, encontraram nas lives uma forma de manter seus shows ativos e também de pagar sua equipe. Por mais que o formato já esteja demonstrando cansaço, ainda é uma ferramenta de interatividade procurada pelos fãs e pelos artistas.
Dessa forma, o painel Universo em expansão: as muitas faces do mercado das lives trouxe Karol Conka, Negra Li e Luísa Sonza para essa discussão.
Só para ilustrar, as oportunidades no mercado da música são alcançadas de maneira desigual. Tal realidade também foi sentida no momento de produção de uma live de show. Negra Li disparou: “Não estamos no mesmo barco”, referindo-se às disparidades de investimentos quando comparamos as lives de artistas mainstream e independentes.
Nesse sentido, Karol Conka complementou que houveram lives em que artistas deixaram de receber para priorizar o pagamento das equipes. Somado a isso, alguns(mas) cantores(as) trabalharam com valores de cachês reduzidos. Além disso, Conka questionou sobre o alcance do artista com a live ser proporcional à redução de cachê.
Alcance e pompoarismo
Quanto à produtividade na quarentena, Negra Li disse ter se tornado adepta do pompoarismo, Karol expandiu sua área de atuação aventurando-se em gravação de áudio, edição de vídeo e tem projetos para produzir novos artistas. Luísa riu dizendo que na quarentena não fez nada.
A respeito da funcionalidade de uma live, Negra Li salientou que viu esse recurso como um atalho para ajudar pessoas, principalmente de sua cidade, Brasilândia. Luísa Sonza reforçou a importância de parcerias com marcas e patrocinadores como fonte de renda e diz que viu nas lives uma forma de aproximação com os fãs. Todavia, Karol Conka foi objetiva e disse que não sentiu disposição pra lives e que essa onda já passou.
Cultura do cancelamento em debate
Numa era de interatividade digital quase full time, nada escapa aos olhos –e julgamento– dos usuários das redes sociais. Inclusive, assistimos o novo documentário da Netflix, Dilema das Redes e você pode conferir a crítica aqui!
Com isso, o WME RMX 2020 trouxe à luz o debate, através do painel Cultura do cancelamento: ressignificando o marketing de influência, com Ana Cañas, Preta Rara e Lettícia Muniz.
Ana Cañas revisitou o episódio de seu próprio cancelamento vivido no passado por conta de uma foto que postou enaltecendo sua liberdade enquanto mulher e foi alvo de duras críticas por autoras feministas. Com isso, a cantora disse que transformou esse acontecimento em uma oportunidade para estudar mais sobre o feminismo e o feminismo negro, transformando-a numa ativista potente dos movimentos.
Além disso, Preta Rara soltou o verbo se dizendo cansada de ser didática: “Enquanto mulher, preta e gorda, a gente tem que estar sempre ensinando alguém.” Desse modo, a rapper e historiadora desabafa dizendo já ser cancelada na vida por abarcar marcadores sociais excludentes e diz não sentir medo do cancelamento.
Do mesmo modo, Preta ressalta ainda que o cancelamento de uma pessoa branca tem prazo de validade e cai no esquecimento, citando o caso do jornalista William Waack, que protagonizou a fala racista “é coisa de preto”. Na época, a Rede Globo demitiu William, mas hoje é âncora da CNN.
Sem dúvida, é importante lembrar que injúria racial é crime e prevê como pena a reclusão de 1 a 6 meses ou multa. Preta Rara lamenta que a lei seja insuficiente, principalmente quando há personagens brancos, héteros e em posição de poder envolvidos.
Influência
Por fim, a respeito do marketing do cancelamento, as convidadas destacaram os malefícios em cancelar pessoas, excluindo a possibilidade de reeducação dos cancelados. Ana Cañas ressalta que essa cultura cancela a democracia e Preta Rara complementa: “Influência não se dá só através de números”, trazendo a responsabilidade para todos nós, que somos capazes de influenciar todos ao nosso redor.
Shows gratuitos de encerramento
O WME RMX 2020 rola ainda hoje e o seu fechamento, programado para domingo (20/09) conta com shows gratuitos de Tiê, previsto para às 11h redes de Eqlibri e de Mc Souto, Xênia França e Céu. A saber, os shows acontecem a partir das 17h no YouTube de Natura Festival.