Dirigido por Charlie Chaplin, Em Busca do Ouro traz o que a sétima arte consegue fazer de melhor: comédia, nostalgia e um forte arco emocional
Por conta do currículo escolar tradicional, um dos primeiros contatos que muitos jovens apresentam com a obra de Charlie Chaplin, provavelmente seja Tempos Modernos (1936, Charlie Chaplin), por causa de seu retrato sobre a segunda revolução industrial, ou talvez, O Grande Ditador (1940, Charlie Chaplin), pela sua crítica mordaz à Adolf Hitler e o movimento Nazista, porém, entre todos estes, Chaplin dizia que gostaria de ser lembrado por um filme que é mais simples, e ao mesmo tempo tão mais profundo, e esta produção é Em Busca do Ouro.
Existem muitas coisas que podem ser faladas sobre Em Busca do Ouro, desde os conflitos de bastidores que ocasionou diversos problemas matrimoniais para Chaplin, o fato que em 1942 o filme foi refeito pelo próprio diretor, acrescentando uma narração em off e tirando o beijo final ou a simplicidade da narrativa que unifica comédia pastelão, humor físico, romance e um potente drama, tudo em uma produção que não apresenta mais de 90 minutos.
Em 2012, na época que fazia teatro, para nossa primeira peça autoral e colaborativa, nosso professor nos deu liberdade para escolhermos o personagem que desejássemos. O que se originou disso, foi um pequeno caos que unia Che Guevara, Coringa, e Charlie Chaplin tudo em um só lugar, em uma apresentação que propositalmente relembrava uma brincadeira de criança. No caso, eu era uma jovem criança feliz como Charlie Chaplin.
Aos 12 anos de idade, eu estava em um momento muito solitário, assim, passava meus dias assistindo filmes antigos, entre eles as obras do vagabundo mais querido do cinema. Assisti a todas as grandes produções dele, sempre chorando, rindo e me divertindo, porém, nunca dei muito valor para Em Busca do Ouro, enxergando como inferior a épicos como Luzes da Cidade (1931, Charlie Chaplin).

Cena de Em Busca do Ouro- Divulgação Oficial
Após 13 anos, tive o prazer de rever Em Busca do Ouro, em uma cópia remasterizada. Eu me recordava de algumas cenas que são impossíveis de esquecer, como a cena dos pãezinhos, ou a barraca que tomba, mas, não cai, porém, fui pego desprevenido pela força e grandiosidade da produção, que consegue fazer rir e emocionar, retratando momentos densos e dramáticos, como dois homens passando fome, de um modo que causa o riso em uma platéia 100 anos mais velha, composta de idosos, adultos, e crianças de 5 anos, que riam juntamente com os pais.
Em uma sessão realizada no Espaço Petrobras de Cinema, em São Paulo, me senti novamente como aquela criança que encontrava conforto na bondade de um homem azarado, que após tantas desavenças, consegue ao final tudo o que desejava, encerrando a produção de forma como se encerravam as melhores comédias dramáticas da época: com um beijo apaixonado.
O personagem de Carlitos se tornou um marco do cinema da primeira metade do século XX, e amado até hoje, por conta principalmente de sua bondade e inocência de criança. Algo comum em todas as produções que aparece e Em Busca do Ouro não difere disso, afinal, quem não se enxerga um pouco quando vê Carlitos destruindo a própria casa de felicidade, após Georgia aceitar o convite para jantar, ou segura lágrimas quando vê que ela não apareceu, e o minerador solitário somente sonhou que estava acompanhado.
Para o espectador atual, o romance de ambos pode aparentar forçado, porém, se analisarmos a filmografia de Chaplin, grande parte de suas parceiras românticas eram bem mais passivas do que Georgia, que apresenta uma personalidade gritante, assim, falo sem medo que Em Busca do Ouro traz uma das personagens femininas mais bem desenvolvidas da filmografia de Chaplin, sendo uma personagem complexa, divertida e acima de tudo, cativante.
Cenas como Georgia chamando Carlitos para dançar, e durante a valsa de A Bela Adormecida de Tchaikovsky, o vagabundo segura suas calças com a bengala para impedir que caia, é simplicidade e beleza em sua forma mais pura. A sequência da dança dos pãezinhos é conhecida até mesmo por quem nunca viu o filme, entre outras cenas que atuam como pequenas esquetes dentro de Em Busca do Ouro, trazendo uma magia que somente poderia existir dentro de uma produção realizada por Charlie Chaplin.

Charlie Chaplin em uma das cenas mais famosas de Em Busca do Ouro- Divulgação Oficial
Em uma época que o cinema estava em constante mudanças por conta do advento do sistema sonoro, Chaplin continua fazendo o que fazia de melhor, algo que nem mesmo Buster Keaton conseguia transmitir com tanta graça: emocionar por meio do simples.
Produções como Em Busca do Ouro continuam enchendo salas 100 anos depois, atraindo uma nova geração de fãs, por conta não somente de ser um excelente filme, nem por apresentar uma trilha sonora grandiosa e memorável, mas sim por transmitir um sentimento leve e esperançoso, que libera em cada espectador uma memória específica que nem mesmo tenha relação direta com a produção, porém, que internamente ressoa e traz uma emoção de gratificação, de que a vida é boa e que valha a pena viver.
Charlie Chaplin faleceu em 1977, porém, sua obra será eterna. Em minha humilde opinião, ele gostaria de ser lembrado por Em Busca do Ouro, por conta do modo como a produção unifica tudo que se destaca em suas produções: a comédia física, o arco emocional, a trilha mágica, e a simplicidade nas cenas, acertando no alvo todas as vezes, isto é algo que realmente merece muito orgulho, e que continuará sendo lembrado, e reverenciado, por mais um século.
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