Tive uma conversa com o escritor, editor e pesquisador de símbolos e mitos, Alec Silva. Ele está envolvido com o movimento literário do Sertãopunk e a organização da aguardada antologia ‘Alma artificial: histórias de máquinas e homens‘, que reúne diversos autores de todo o Brasil para falar de um futuro possível. Comecei questionando sobre como esse gênero da ficção científica, supostamente, não tem uma tradição no país, seja no cinema, na literatura, nos quadrinhos.
“Antes de tudo, acho bastante complexo afirmar que não temos uma tradição de ficção científica. Não é bem assim. Tivemos manifestações, sim, de teor que lembra a ficção científica mais em seus primórdios, com elementos do gótico, com elementos mais fantásticos sobre fenômenos científicos. Eu diria que a gente apenas não deu o devido valor antes, contudo aos poucos tem surgido, por meio de outras editoras, um resgate desse passado fantástico de nossa literatura”, argumentou o pesquisador.
Em seguida, Alec Silva contou um pouco sobre essa nova empreitada: “Agora, sobre os dois volumes de ‘Alma Artificial’, me envolvi no tema pelo desafio. Foi proposto, no início do ano, um calendário temático, e entre eles alguns de ficção científica, incluindo sobre inteligência artificial. É um desafio para mim, mais acostumado a escrever e ler contos de fantasia e terror, embarcar nisso. Até o momento, tem sido satisfatório, a julgar que é a única antologia da Cartola Editora este ano a pegar dois volumes, devido ao tanto de contos que recebemos, e a maioria com muita qualidade e originalidade.”
Aliás, saiba mais sobre ‘Alma Artificial’ da Cartola Editora: https://www.catarse.me/almaartificial
Sertãopunk
Alec mostra personalidade e não foge da polêmica quando questiono sobre o Sertãopunk e se foi uma resposta ao cyberagreste.
“O termo, em si, não é novidade. Mas o conceito todo que foi dado pelos criadores (G. G. Diniz, Alan de Sá e eu) busca ‘devolver’ aos nordestinos o interesse em falar de sua região. Buscamos incentivar histórias sobre o amanhã, seja daqui um ano, uma década ou mais. Temos algumas características definidas, afinal trata-se de um movimento e um gênero, mas uma vez preenchidos os requisitos (entre os quais está ser nordestino, tanto de nascença quanto de criação), o céu é o limite. E sim, é uma resposta ao falecido (risos).”
Então, fiz uma pergunta da qual já sabia a resposta, mas que achei válido ressaltar. Se estar distante do eixo sul-sudeste dificulta ou ajuda um escritor. “Dificulta. Em praticamente tudo. As oportunidades de publicação são mais escassas, o mercado que adora falar que busca representatividade olha para o Nordeste mais como um planeta estranho, com seres alienígenas. É bonito falar sobre o nordestino no papel, mas dar espaço pro nordestino é outra conversa.”, respondeu Alec. Existiria um racha crescente entre as regiões do Brasil, favorecida pelo momento político? Alec deu uma resposta corajosa.
“Talvez. Eu costumo brincar com o tema, e é uma das características do sertãopunk e eu o explorei em alguns contos, mas acho que o lado mais ofensivo seja o eixo Sul-Sudeste. Nós, do Nordeste, seguimos de boas e se tiver que separar, a gente separa, sim. Cansa carregar o país nas costas, às vezes.”
Realismo Mágico
Quando comentei que o Nordeste é estereotipado pelo eixo sul-sudeste, Alec veio com: “Bastante! É uma coisa que o sertãopunk defende: sem estereótipos, apenas o olhar do nordestino sobre sua realidade, sua região. Um nordestino que nasceu e cresceu aqui terá uma visão diferente de um que nasceu noutro estado e mora aqui há cinco anos; é algo que buscamos, é o que nos move. Não queremos sudestinos reforçando o estereótipo de que aqui é tudo seca, cangaço e cangaceiros. Por isso, o movimento é para os nordestinos, e apenas para eles, para nós.”
Apesar dessas diferenças entre as regiões, fica bem clara a vontade de Alec Silva de elevar a literatura brasileira como um todo. Trouxe para a pauta se precisamos valorizar mais a arte nacional e se somos escravos de um eurocentrismo e da cultura norte-americana. “Precisamos, sim, e muito. E somos bastante. Lembro que quando montávamos os elementos do sertãopunk, foi sugerido alguns elementos estrangeiros importados dos EUA ou Europa. Um deles foi o new weird. Eu perguntei ‘Por que não o realismo mágico?’, e agora temos isso. Assim como temos oportunidade de falar sobre nossas origens afros, e o folclore vem em cheio também, cabendo todos os aspectos possíveis. Não nego a importância da globalização, mas não devemos ser reféns disso.”, disse o escritor de “A Jornada Para Encontrar a Felicidade da Mamãe”.
Jornada e depressão
Pensando em um dos trabalhos de Alec, perguntei se a noite nordestina tem mil olhos. “E um homem é uma coisa muito pequena, como diria Lord Dunsany. A noite sempre me deu uma sensação de enigma, de coisas além do que posso ver, mas estão lá. As corujas são olhos da noite. As mariposas. Os grilos. E algo mais. ‘A noite tem mil olhos’, minha estreia do sertãopunk, é sobre esse algo mais que habita na noite.”, respondeu.
Afinal, questionei sobre o livro que lançou “Jornada para encontrar a felicidade da mamãe”:
“Uma metáfora para a depressão. Sem brincadeira, é isso. Mas no olhar de uma menininha de uns seis anos. E ela não está sozinha. Tem amigos especiais, tem o segredo poderoso que só quem ama os livros conhece’, finalizou Alec Silva, com o romantismo literário necessário.
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Parabéns pela entrevista.
É muito boa.
Gratidão, meu amigo!
As respostas do Alec foram muito interessantes.
Esse Alec Silva é muito ruim. O cara produz uma quantidade imensa de lixo e sai vendeno a 1 real na amazon. Peguei alguns e quase travou meu kindle. Escrita é ruim, enredo ruim, o cara é grosso e se auto intitula o fanfarrao da internet. Péssimo dos péssimos