Com Sexa, Glória Pires estreia na direção com talento, humor e uma discussão necessária sobre a sexualidade feminina na maturidade
É inquestionável que Glória Pires seja uma das atrizes mais queridas e versáteis do audiovisual brasileiro. Com uma carreira marcada por novelas, comédias carismáticas e dramas densos, a atriz sempre transita entre diferentes gêneros com espontaneidade e leveza. Este carisma, somado à sua habilidade de dialogar com o público, seja em papéis inesquecíveis ou até mesmo em memes que marcaram a internet, elevou as expectativas para sua estreia atrás das câmeras, permitindo que com Sexa, Glória entregasse uma produção que traz não apenas sua força e talento, mas também seu charme natural, e principalmente, uma reflexão necessária sobre amor e prazer na terceira idade.
O filme acompanha Bárbara, uma revisora de textos sexagenária que abriu mão do amor, porém, sua rotina muda quando ela conhece David, um homem 25 anos mais jovem, que desperta nela sentimentos adormecidos e a obriga a lidar com preconceitos, inclusive os próprios, para reconhecer que ainda merece ser feliz, tanto amorosa quanto sexualmente.

Gloria Pires em cena de Sexa- Divulgação Festival do Rio
Embora Sexa recorra a elementos já vistos em outras produções, principalmente do sub-gênero de comédia romântica, como Novidades no Amor (2006, Bart Freundlich), seu valor está em ser uma obra profundamente brasileira, e mais do que isso, carioca. O humor, as situações cotidianas e a própria representação da cidade dão à narrativa uma autenticidade que evita o exagero e se ancora na naturalidade das relações e diálogos, se diferenciando de comédias recentes como Perrengue Fashion (2025, Flávia Lacerda), que aposta em arquétipos caricatos e um humor forçado, quando na produção de Pires, o riso nasce da verdade, e da naturalidade de seus personagens, não dos exageros.
Um dos pontos altos é a química entre Glória Pires e Thiago Martins, que voltam a contracenar dez anos após Babilônia (2015), retomando uma intimidade natural, essencial para que a relação de Bárbara e David convença, enquanto no contraponto masculino, temos Danilo Mesquita como filho de Bárbara, um personagem fechado e resistente à ideia da liberdade sexual da mãe, que do mesmo modo que grande parte do elenco coadjuvante, não recebe tanto foco quanto deveria, com destaque para Luana Tanaka, companheira do personagem de Mesquita, e que poderia ter apresentado um arco mais maduro.
No aspecto técnico, a direção de Glória Pires surpreende pela segurança. A fotografia abusa de colorações vibrantes, que somado a uma trilha sonora romântica, reforça a leveza da relação central, representada por meio de uma segura Mise en scène, auxiliada por um jogo de iluminação que, somado ao tudo, confere à obra um cuidado estético notável.

Thiago Martins em cena de Sexa- Divulgação Festival do Rio
Mais do que inovar, Sexa se propõe a discutir de forma leve um tema que ainda é alvo de preconceito: a sexualidade feminina na maturidade. Em tempos em que muitas produções tratam esse assunto de forma vulgar ou caricata, Glória prefere o caminho da delicadeza. Suas cenas de intimidade não buscam chocar, mas sim afirmar que prazer, desejo e amor não têm prazo de validade, resultando em uma comédia romântica divertida e necessária, que convida o público a rir, se emocionar e refletir.
Sexa estreia nos cinemas nacionais em 11 de dezembro e marca uma nova fase na carreira de Glória Pires, demonstrando que como diretora, sabe não apenas interpretar grandes histórias, mas também contá-las com sensibilidade, humor e afeto.
Siga-nos e confira outras dicas em @viventeandante e no nosso canal de whatsapp !



