Origens Secretas (Orígenes secretos) é um filme espanhol na Netflix que homenageia todo o universo dos super-heróis e, em geral, a cultura pop. As referências ocorrem durante toda a exibição e uma das melhores coisas é perceber algumas que não são ditas pelo personagem Jorge Elias (o simpático Brays Efe), um nerd dono de uma loja geek, filho de um ótimo inspetor que está para se aposentar, Cosme (boa atuação de Antonio Resines). Jorge, com seu extenso conhecimento nerd, deve ajudar um detetive, David (Javer Rey), em um caso. Isso tudo porque estão ocorrendo crimes baseados em histórias clássicas dos quadrinhos.
Sempre fui fã de quadrinhos. Aprendi a ler com os X-men. Aliás, aprendi muito sobre preconceito, graças a esse grupo de heróis, párias mutantes. Sendo assim, Origens Secretas me trouxe boas lembranças, da velha coleção de quadrinhos, que já foi doada faz tempo. Do carinho que tinha na pré-adolescência com algumas edições. Das idas a lojas como a que aparece no filme. Havia uma na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, chamada Gibimania. Era pequena – e gigante. Comprei ali edições antigas que tanto queria ler, blusas e enfeites. Até hoje há uma chamada Metrópolis, no bairro do Méier. Certa vez, comprei lá umas fitas de VHS: os quatro OVAs de Samurai X (Rurouni Kenshin). Ainda está lá, firme e forte, como um quartel general para os fãs desses mundos tão saborosos.
Havia uma outra, no bairro da Tijuca também, com o sugestivo nome de Gotham City. São lembranças dos anos 90. Não havia essa internet que nos permite encontrar de tudo. Essas lojas eram como um oásis em meio ao deserto. Melhor que isso, só a Comicmania, convenção que acontecia no Sesc Tijuca. Para aqueles reles mortais, era o mais próximo que havia de algo como a Comic Con.
Só pode haver um
Afinal, o filme me fez pensar muito no fascínio por esses universos. Engraçado porque, na época, sonhávamos em ver aqueles heróis no cinema. Os X-men, os Vingadores. Quem gostava desse tipo de coisa era tipo como pária e tinha grande chance de ser zoado e esculachado, ou seja, sofrer bullying. Aliás, ninguém usava essa palavra naqueles tempos. Inclusive, Origens Secretas mostra um pouco disso, a partir do preconceito inicial do detetive David com os nerds, tomando-os como fracassados. Logicamente, ele recebe uma bela lição.
É bonito ver uma coleção de espadas de filmes e séries. Ouvimos comentários sobre algumas como sendo de O Senhor dos Anéis ou de Game of Thrones, mas ali é possível ver também a espada de Highlander, com o nome do protagonista, Macleod. Uma das graças do filme é perceber as referências escondidas.
Além disso, a chefe da divisão de homicídios não lê quadrinhos. Mas é fã de animes, faz cosplay (veste-se como os heróis) e traz toda uma outra gama de citações. Infelizmente, nem todas as piadas funcionam muito bem, contudo, as constantes homenagens podem agradar aos fãs da cultura pop em geral. É um grande fan service, mas não inova. Em verdade, bebe na fonte de Corpo Fechado (Unbreakablee), de M. Night Shyamalan, um filme subestimado por muitos, mas que tenho grande apreço.
Após tudo que disse, considero que posso falar de de um outro degrau. Sendo assim, Origens Secretas tem sim seus momentos, começa bem e instigante, mas não surpreende, talvez até decepcione, pois não emociona em situação nenhuma. Contudo, no geral, a direção de arte merece elogios.
Ah, por fim, tem cena depois dos créditos. E até finaliza bem a proposta.