No sábado (07/12), a Atlântica Panificadora, em Copacabana, recebeu o evento Café Literário, reunindo diversos autores brasileiros que puderam estar diretamente conectados com seus leitores. O Vivente Andante passou por lá e conversou com os artistas da palavra que vem lutando pela maior divulgação da cultura nacional.
“Os organizadores conseguiram me colocar em um lugar junto com outros que escrevem como eu. Isso é ótimo, trocar essa ideia. Tem desde o infantil até uma obra mais quente, tem fantasia, o meu é suspense. Então a troca aqui é fantástica. Meu livro é o Dupla Face, um suspense tendo o Rio de Janeiro como pano de fundo. É a primeira vez que você vê um triângulo amoroso numa obra de suspense, então você tem a desenvoltura, o desenrolar, com nosso pano de fundo. Além desse Café Literário a gente vai se unir para rodar o Brasil em feiras e eventos”, falou o escritor Romulo Baron.
Diversos gêneros
O evento teve espaço para o livro infantil também com A Formiguinha Horalícia, de Ana Paula Cruz, que disse: “O livro fala sobre o bullying, baseado em uma história real, que aconteceu de fato na minha sala de aula. Criei essa formiguinha para dar voz às crianças que sofrem com isso. Muitas não falam por questões de ameaças dos próprios colegas que estão praticando o bullying. Estou aqui no Café Literário por mais iniciativas dessas. Por mais pessoas se conscientizando do valor da literatura e do livro nacional”.
A escritora Viviane Silva estava com seu livro Além do Proibido que fala sobre Sofia, uma mulher que tem uma vida perfeita, aparentemente. “O que os olhos veem, o coração não sente. Sofia descobre que o marido dela não é quem ela pensava. Vale a leitura. Esses eventos que estamos participando vem dando muita visibilidade para gente. O autor brasileiro não tem muito reconhecimento, nem muitas oportunidades de crescer. Tem tanto autor talentoso, tantos jovens talentosos. Graças a esses eventos e aos leitores a gente vem conseguindo crescer cada vez mais”, declarou.
União pelas obras nacionais
Um romance LGBTQ+ masculino escrito por Clara Artemis estava lá: Cores em Você. Conta sobre um menino que se descobre homossexual muito novo e tenta encontrar seu lugar no mundo, buscando amadurecer e se entender na sociedade. “Um evento como esse é bom para, além de reunir autores, as pessoas poderem conhecê-los pessoalmente. Esses bons autores nacionais e suas ótimas obras. As pessoas hoje em dia valorizam muito os livros internacionais e autores lá de fora, quando no nosso Brasil temos tantos maravilhosos. Qualquer tipo de estilo tem um autor aqui escrevendo. Você gosta de um romance fantasia? Tem alguém aqui no Brasil que está escrevendo, às vezes muito melhor do que os livros que você lê lá de fora. Usando a nossa cultura como exemplo e muito mais rico”, afirmou.
A Kira, blogueira do @dicasdakira, estava mediando o Café Literário, fazendo perguntas para os autores, entrevistando. Ela escreve um blog com recomendações de literatura. Inclusive, está a frente do projeto Arigatô, que doa livros em comunidades carentes em parceria com escolas em São Gonçalo. Kira faz esse trabalho de apoio aos autores nacionais e declarou: “Tenho muito esse foco no autor nacional, pois acho que eles não tem tanta oportunidade quanto eles merecem. É muito difícil ser um autor nacional. Conheço muitos que saíram do país em busca do sucesso, porque aqui não tem esse apoio. É difícil publicar, e, quando publicam, é difícil divulgar”.
Evento crucial
Minha Poesia é Você é o primeiro trabalho solo de Altamir Costa que participou em cinco outras publicações em forma de antologia. “Isso aqui é fundamental para tornar nossas obras conhecidas, nosso estilo, principalmente. É trazer o leitor mais próximo do escritor. Às vezes o pessoal compra o livro, mas não sabe nada do autor. Eventos assim permitem a proximidade, um contato maior. Assim acaba essa coisa de que o autor é uma figura emblemática, difícil. E é uma pessoa normal como outra qualquer. Você vê a alegria que é um evento como esse”, comentou.
Milena Pereira divulgou o livro O Professor, publicado nesse ano de 2019. “A importância de cafés literários e das feiras é permitir que as pessoas tenham um contato maior com a cultura, que está cada vez mais escassa e não tem investimento. Esse tipo de união entre escritores e as pessoas desse meio ajuda muito para que possamos conhecer novos seres humanos e acrescenta na nossa vida. Cada pessoa que passa deixa um pouquinho dela com a gente. Esse tipo de evento é crucial”, disse.
Espaço para os aventureiros
R. Mendonça Venâncio, escritor de fantasia apresentou seu Eaman, O Aventureiro Novato, onde fala de problemas atuais a partir da evolução de uma pessoa, mais especificamente, de um herói. “O brasileiro não tem o hábito de ler. Não temos clubes de livros, não falamos sobre livros, então um evento como esse incentiva muito a cultura. Mesmo que estejam tentando nos podar aos poucos. Chegaram hoje aos meus ouvidos algumas iniciativas sobre a retirada do MEI (Microempreendedor individual) de artistas e produtores culturais. Isso é um tiro no pé. Acho que a gente batalhando e mostrando para as pessoas o valor da leitura, que leva a uma boa escrita, e que a escrita leva a elevação do ser… Se a gente consegue fazer mais eventos como esse é possível incutir coisas boas. Com mais eventos culturais assim haveria uma ampliação do gosto pela leitura, pela arte, pela ciência”, comentou.
Helena Paiva foi a pessoa que cedeu o espaço para aqueles escritores, exatamente por amar a leitura e acreditar na necessidade do público conhecer mais sobre livros. “Infelizmente, no Rio de Janeiro, no Brasil, não vejo amor pela leitura. Vejo as pessoas se interessarem mais por um celular, por um jogo, do que por uma leitura. E, devo dizer, uma boa leitura é imprescindível; uma boa leitura é cultura”, afirmou Helena.
Imaginação é Vida
Bianca Baptista é escritora dos gêneros romance e infantil. Em suas mãos, o livro Adoro-Te, sobre a relação de um português com uma brasileira. Contudo, disse que tem uma surpresa para o leitor no final, pois aquele português tem um segredo. Além disso, ainda proferiu: “Sou avó e escrevi um livro infantil sobre o Arturzinho, que quer ser astronauta. Aí, no dia-a-dia, a avó dele (aponta para si mesma) ensina como ele pode ser um astronauta bem pequenininho usando a imaginação. Por isso que o título é Asas da Imaginação.”
Dandara Lemos estava como leitora e se colocou como uma apreciadora de livros: “O que que não tem para apreciar dentro de um livro, né? Vamos combinar (risos). É um mundo que se abre ali, completamente diferente para você absorver, se envolver e escapar um pouquinho do seu. Vim para conhecer os autores brasileiros, porque leio muito o que vem de fora, então faz parte apreciar o que é nosso. É necessário, ainda mais hoje em dia.”
Folclore brasileiro
Segador, obra de Drak, tem como subtítulo “Você realmente é como as pessoas te enxergam?” e segue a história de um personagem mítico do folclore brasileiro, procurando apresentar um universo sombrio distinto do que vemos na literatura estrangeira. “Vemos muitos jovens fascinados pela literatura americana, inglesa, alemã. Mas você não vê esses jovens interessados pela própria cultura, pela própria nacionalidade. O nosso folclore, a nossa história é muito rica, muito profunda, para ser deixada de lado, esquecida, e substituída pela cultura estrangeira, que é o que presenciamos. Adoro os filmes da Marvel e da DC, mas acho absurdo não haver esse mesmo carinho e empatia pelos nossos heróis e nossa cultura”.
Enfim, o Café Literário reuniu pessoas em torno da leitura – da cultura- e despertou a curiosidade dos que estavam passando pelo local, demonstrando a relevância da manutenção dessas boas iniciativas que auxiliam no crescimento do capital cultural do povo.