No filme Fotografação, em poucos minutos, Lauro Escorel faz um curto documento sobre a história do Brasil recontada através da história do desenvolvimento da fotografia. Ainda aprofunda em como o desenvolvimento técnico dessa arte é utilizado politicamente ou no contexto em que se encontra. Entrevistando diversos fotógrafos e especialistas da área, Escorel volta ao início da fotografia no Brasil. Além disso, percorrendo do século XIX ao XXI nos faz questionar que papel a fotografia desempenha para nós, como Brasil, como brasileiros, e como indivíduos universais.
O filme passa pelas primeiras experiências com daguerreótipo, uma câmara escura, o início da fotografia como conhecemos hoje. Ainda mostra o início da ideia do Rio de Janeiro como cartão postal para ser enviado pelo correio aos amigos e parentes no exterior. Em seguida, nos traz questões da fotografia como retrato, e até que ponto o retratado é influenciado pela visão do fotógrafo. Índios em poses ensaiadas, escravos bem vestidos, mas com a verdade carregada no olhar, plantas e mais plantas colocadas em bordas de retratos tirados em salas da nobreza. Nesse tempo, a fotografia construía o imaginário do que era o Império. O próprio Dom Pedro II foi um fotógrafo.
Mário de Andrade
E daí o filme parte para os outros pontos da nossa história política e cultural. Início da República, e a fabricação de sua imagem; a Semana de Arte Moderna, e sua conquista por novas linguagens; Estado Novo com Getúlio; Fundação de Brasília, etc. O termo fotografação (que nos chega no título do filme com sua divisão fotograf- e –ação) é um termo cunhado pelo poeta Mário de Andrade. Além de poeta, Mário de Andrade é uma das peças importantes para o documentário. Sua fotografia é explorada durante o filme como um rompimento com o estilo anterior de fotografia e o início de uma linguagem mais moderna, que permitia, por exemplo, que o poeta tirasse um autorretrato apenas usando a imagem de sua sombra no chão.
O rompimento, claro, não é culpa apenas de Mário de Andrade, e nem exatamente de outras pessoas, mas sim da democratização da fotografia. Carregar uma pequena Kodak e tirar fotos mais livremente, sem toda aquela parafernalha das máquinas antigas começa a se tornar algo real, e com isso, o surgimento de diversos fotógrafos e suas individualidades estilísticas. Essa democratização da fotografia que existiu em diversos formatos, evolui do formato analógico e impresso para o formato digital que conhecemos hoje. Escorel coloca os entrevistados para refletir que papel desempenha uma selfie para o mundo e para a fotografia no geral, já que é quase que impossível que nunca tenhamos visto ou tirado uma.
O que é fotografar e o que é o Brasil
Escorel faz, também, conexões com a fotografia em movimento do cinema. Além de relacionar os momentos históricos que estão sendo expostos no documentário com filmes em que ele trabalhou no passado, mas, infelizmente, é o máximo que vemos do elo entre fotografia e cinema.
Embora algum momento ou outro do filme necessite de uma ajustada de edição para suavizar algumas transições, a película poderia ser, sem temer, mais longa e explorar ainda mais profundamente as questões levantadas e trazidas para o debate. Além de, claro, nos mostrar trabalho de mais fotógrafos. Contudo, isso não ofusca a riqueza do que é dito nem pelos especialistas em suas reflexões e entrevistas, e nem o que é narrado e refletido por Lauro Escorel em off. O documentário faz, mesmo sendo imperfeito, que reimaginemos a imagem que nos deram do que é fotografar e do que é o Brasil.
Afinal, veja o trailer:
FOTOGRAFAÇÃO, novo trabalho de Lauro Escorel, exibido no 24º Festival Internacional de Documentários – É Tudo Verdade 2019, estreia em circuito comercial nesta quinta-feira, dia 05 de março, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Niterói, Brasília e Manaus.