Imagens de guerra, miséria, enchentes e queimadas e a narração da roteirista e diretora Adriana L. Dutra abrem o longa-metragem Sociedade do Medo. O filme tem uma abordagem do medo como sentimento inerente ao ser humano. No transcorrer da pesquisa, levanta reflexões sobre o uso do medo por sistemas políticos. O documentário está disponível na Globoplay e foi exibido pela primeira vez na edição mais recente do Festival do Rio, onde concorreu a melhor documentário na mostra Première Brasil.
As filmagens começaram antes da pandemia da Covid-19, e seguiram de maneira remota após janeiro de 2020. O medo da pandemia e da possibilidade de 3ª Guerra Mundial, com a Ucrânia sendo invadida pela Rússia, incrementaram as discussões sobre a temática trazendo novas reflexões.
O documentário equipara o medo a uma epidemia que assola a humanidade sendo potencializada por sistemas políticos e econômicos. Traz entrevistas com especialistas de diversas áreas e de diferentes partes do mundo. Dentre os nomes brasileiros, o padre Júlio Lancellotti, o escritor e filósofo indígena Ailton Krenak, a jornalista Flávia Oliveira, a vereadora Benny Briolly, a pesquisadora Ivana Bentes e a deputada federal Talíria Petrone.
Crescente
A abordagem se desenvolve numa crescente trazendo o medo, inicialmente, como um sentimento, emoção e até energia do ser humano, nascido a partir de questionamentos e inseguranças básicos sobre sobrevivência e morte. Ao longo das entrevistas surgem reflexões de como o temor também pode ser utilizado como ferramenta fabricada e utilizada na construção de narrativas políticas para manipulação e dominação de massas.
Dessa maneira, Sociedade do Medo segue mostrando uma ligação da construção de narrativas de insegurança para o financiamento e fortalecimento de dogmas e mitos religiosos, capitalismo e consumismo inconsciente, sistemas econômicos e políticos ditatoriais, que surgem como paliativos, em detrimento de pluralidade, cultura e diversidade. Tudo isso, faz pensar sobre como o grande temor do ser humano é o desconhecido, aquilo que não pertence a algo que lhe é comum, o diferente, e como o direcionamento da sociedade tem sido pautado sobre insegurança e pânico.
Aliás, veja o trailer, e siga lendo:
Ao ouvir os cientistas, filósofos, jornalistas, historiadores, pesquisadores entrevistados em Tóquio, Nova York, Los Angeles, Londres, Paris, Amsterdam ou no Brasil, percebe-se a unidade desses sobre como “curar” a humanidade dessa epidemia, com conhecimento, cultura, educação para a construção de um pensamento crítico individual e sem amarras.
TRILOGIA CATARSE – PARA PENSAR SOBRE QUESTÕES EXISTENCIAIS
Sociedade do Medo encerra a “Trilogia da Catarse”, (Fumando Espero, de 2009, e Quanto Tempo o Tempo Tem, de 2015). São filmes roteirizados e dirigidos pela cineasta carioca Adriana L. Dutra. A produção é pela Inffinito e coprodução pela Globo Filmes, GloboNews, Canal Brasil e GNT.
Afinal, o documentário é uma grande reflexão sobre a epidemia do medo que assola a humanidade. Porém, fruto de um sistema que, historicamente, manipula as massas a partir da propagação do pânico e da insegurança. Além disso, assim como em seus dois primeiros filmes, Adriana L. Dutra compartilha com o espectador questões existenciais, com o objetivo de pensar assuntos sensíveis e universais que afetam o homem contemporâneo.
Já viu o filme? O que achou? Você sente muito medo? Diz nos comentários!
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