Se prepare para rir e também se emocionar. Parece comercial de filme na televisão, mas é exatamente isso que vai acontecer com o espectador que assistir Dois é demais em Orlando, comédia que estreia quinta-feira, 28 de março, nos cinemas do Brasil. Protagonizada por Eduardo Sterblitch e Pedro Burgarelli, o longa foi feito com a intenção de levar a família toda às salas de cinema. Segundo os produtores da comédia, Diego Paiva e Luciana Boal, o objetivo era fazer um filme que agradasse a crianças e adultos. E não seria mentiroso dizer que o objetivo foi alcançado, visto que Dois é demais em Orlando tem aspectos que divertem crianças e outros que divertem os adultos – não deixando de fora os adolescentes.
Para resumir, João é um adulto que parece uma criança e Carlos Alberto é uma criança que parece um adulto. João vai passar as férias em Orlando e sua chefe, Clara, pede que João acompanhe o filho, Cacá, no voo. Na cidade norte-americana, o pai de Carlos Alberto estará aguardando o filho, então Joao poderá seguir sua viagem sozinho, como sempre quis. Porém, o pai do garoto tem imprevistos e João acaba tendo que dividir sua tão sonhada viagem com o menino, para tristeza de ambos.
Para exemplificar, vamos ao trailer:
Enredo
Em Dois é demais em Orlando, Eduardo Sterblitch é João, um homem que é apaixonado por parques de diversão. Seu amor pelos parques, contudo, não vem somente do fato de João ser um cara que só cresceu em idade, e não em maturidade. Até porque ele é, sim, maduro – ou ao menos responsável. Tem um emprego, não deixa faltar nada à sua chefe, é comprometido. Mas ele é comprometido, também, à diversão. E isso vem de um lugar que deixa a história mais densa e interessante: seu pai, que morreu quando João tinha 13 anos, era igualmente apaixonado por parques e passou esse amor ao filho. Portanto, visitar lugares como esse o conectam ao seu falecido pai. Esse detalhe, apesar de pequeno, traz uma complexidade maior à trama e ao personagem, que não é só mais um cara imaturo que gosta de fazer coisas que crianças fazem.
Ao mesmo tempo, temos Carlos Alberto – ou Cacá -, filho de Clara, chefe de João. O menino de 11 anos é o contrário de João, ou seja, um adulto no corpo de uma criança. Ele é sério e se interessa por coisas que meninos da idade dele não costumam se interessar. Porém, apesar disso, ainda é uma criança. E, ao contrário de muitos filmes que apresentam personagens totalmente duais e sem complexidade (o adulto completamente imaturo e a criança totalmente madura), Cacá também gosta de se divertir. Só que do jeito dele. O que não é muito bem-entendido por seus colegas. Pronto, mais um ponto para as camadas que o personagem apresenta. Mais um ponto positivo para o filme, que conseguiu criar dois personagens que são tipos já muito conhecidos do público, mas com especificidades interessantes que dão mais profundidade à trama – e a eles mesmos.
Gigantes em cena
É inegável que Eduardo Sterblitch é um ótimo ator e que ele tem um talento enorme para a comédia. Contudo, como disse antes, o filme também emociona. E também nessas cenas é possível observar pequenas nuances na atuação de Sterblitch que denuncia as alterações internas do personagem. Apesar de ser um ator que faça comédia física muito bem e que sabe exagerar quando necessário, Eduardo consegue, da mesma forma, passar emoção quando a cena pede. E de maneira muito sutil. E é um ator muito generoso, vide que dá espaço para seu companheiro de cena, Pedro Burgarelli, brilhar.
O menino, inclusive, apesar da pouca idade, demonstra, como seu personagem, muita maturidade. Tem um ótimo timing de comédia, não se deixando apagar por Sterblitch. Pedro comanda o filme tão bem quanto o intérprete de João e mostra, em Dois é demais em Orlando, que terá um grande futuro na profissão, caso seja sua escolha seguir esse caminho.
Muita comédia
Além de Sterblitch e Pedro, outros atores que brilham na tela são Estevam Nabote e Polly Marinho. Apesar de terem papéis pequenos e terem pouquíssimo tempo de tela, ambos os atores se destacam quando aparecem. Conhecido do público do canal Porta dos Fundos, Nabote traz seu humor de sempre e faz rir desde o momento em que aparece pela primeira vez. Não apenas pelo figurino ridículo que aparece usando, mas Estevam Nabote parece ter nascido para fazer rir. Ele é um comediante nato e é impossível não rir com ele.
Já Polly Marinho traz uma atuação tão natural que ela parece ser a personagem que interpreta. “Mas, Livia, esse não é o papel de todo ator?”. Sim, queridos, mas sabemos que nem todos conseguem tal proeza. E Polly consegue com facilidade e cria empatia logo de cara. Se destaca tanto que o espectador fica querendo que sua personagem apareça por muito mais tempo do que acontece.
Temas abordados
Filmes feitos para a família geralmente levantam questões e trazem lições para quem assiste. Dois é demais em Orlando faz isso, porém, de uma forma muito leve e aprazível. É muito importante, contudo, a forma como o filme trata da maneira como nos portamos no mundo. Em uma sociedade que parece cada vez mais ligada a padrões, seja ele qual for, e cada vez mais inalcançáveis, o filme é uma ode à individualidade de cada um. Algo muito importante, por exemplo, para se mostrar às crianças, para que elas aprendam que elas podem ser como quiserem e quem quiserem, desde que não agridam ao próximo.
A forma como retratam João, um homem que não se atém a comportamentos típicos do que se é considerado esperado de um homem adulto heterossexual, por exemplo, é de grande ensinamento aos jovens. João é do jeito que é, ama seus personagens e seus parques de diversão e não se importa com o que os outros pensam ou falam sobre isso. Ao mesmo tempo, respeita as pessoas e é educado (na maior parte do tempo rs).
Outro tema abordado é a coletividade. Mais uma vez, em uma sociedade cada vez mais individualista, é interessante um filme mostrar a importância do coletivo. Não é uma apologia ao “é impossível ser feliz sozinho” ou à felicidade tóxica. Mas suscita uma reflexão a como podemos ir mais longe juntos, o que pode ser bastante clichê, mas que também é muito real. Mas sem deixar de pensar em nossos limites e em nossa individualidade. Ou seja, é um filme que atinge mesmo a todas as idades. E que faz rir, pensar e chorar. Mas muito mais rir, fiquem tranquilos!
Ficha Técnica
DOIS É DEMAIS EM ORLANDO
Brasil | 2024 | 104min. | Comédia
Direção: Rodrigo Van Der Put
Roteiro: Daniela Ocampo e Luiza Yabrudi
Elenco: Eduardo Sterblitch, Pedro Burgarelli, Luana Martau, Anderson Di Rizzi, Polly Marinho, Estevam Nabote, Daniel Furlan, Aryè Campos, Morena Machado, Robson Nunes, Cezar Maracujá.
Produção: MPC Filmes
Coprodução: Globo Filmes, Telecine e Universal Pictures
Com participação de: Universal Orlando Resort e Valencia College Film
Distribuição: H2O Films
POR FIM, LEIA MAIS:
‘Dois é Demais em Orlando’, com Eduardo Sterblitch, divulga pôster
Crítica | ‘Desapega!’ uma comédia sobre compradores compulsivos