Jojo Rabbit é um dos indicados ao Oscar de Melhor Filme em 2020. Em verdade, o longa-metragem dirigido por Taika Waititi (Thor: Ragnarok) recebeu seis indicações. Inclusive, estava previsto para estrear nos cinemas brasileiros somente no dia 6 de fevereiro, contudo, haverá sessões a partir de 30 de janeiro. Ou seja, bem a tempo da cerimônia do Oscar, que acontece no dia 9 do próximo mês.
Uma das coisas mais interessantes do divertido filme é que, além de dirigir, Waititi também interpreta o líder nazista Adolf Hitler. Porém, não é exatamente aquele ditador conhecido, e sim o amigo imaginário do pequeno Jojo de 10 anos. Ué, mas como assim? A película se passa na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial. Jojo, vivido com muita eficiência e graça pelo super carismático Roman Griffin Davis, é um jovem nazista que está sempre dialogando com seu amigo imaginário Adolf Hitler, o qual ganha forma em uma atuação hilária de Taika Waititi. O sonho do menino é participar da Juventude Hitlerista, um grupo pró-nazista. Todavia, Jojo descobre que sua mãe, Josie Betzler (mais um excelente trabalho de Scarlett Johansson), está escondendo uma judia, Elsa (Thomasin McKenzie, ótima também), no sótão de casa.
A vida é bela
A evolução da relação de Jojo e Elsa é um dos maiores atrativos. Com direito a uma sequência digna de gênero de terror, que mostra a versatilidade do diretor. Aliás, o filme arranca algumas boas risadas, e consegue emocionar em muitos momentos. O mote e o estilo me fizeram lembrar um pouco o ótimo e clássico filme italiano “A Vida é Bela“, de Roberto Benigni. Não tem a mesma genialidade – nem tampouco busca isso. Até porque aqui o menino é um nazista e tem Hitler como um ídolo, algo completamente oposto ao tema do filme de Benigni, focado em um garoto judeu e seu pai. O que une essas duas belas peças da sétima arte é a utilização do humor para tratar de um dos eventos mais traumáticos da História: a Segunda Guerra Mundial.
Taika Waititi, como Tarantino busca em “Bastardos Inglórios”, ridiculariza os nazistas. Entretanto, aqui foca em suas absurdas motivações. As cenas iniciais no treinamento para nazistas mirins deixa bem claro o rumo escolhido e é muito divertida. Jojo é apenas um garoto sensível tentando se encaixar, mas suas escolhas acabam lhe trazendo cicatrizes. Aí entra outro grande atrativo, o próprio Taika vivendo esse Hitler engraçadíssimo, uma cômica caricatura desse lunático vilão. A interação dos dois fornece algumas das situações mais jocosas da exibição. O humor é usado como ferramenta crítica ao fanatismo e o absurdo da guerra. Ainda temos Sam Rockwell como Capitão Klenzendorf ao lado de Finkel, feito por Alfie Allen (o Theon Greyjoy, de Game of Thrones), uma dupla bafônica.
Fanatismo e Oscar
A saber, no Oscar, Jojo Rabbit concorre nas seguintes categorias: Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Atriz Coadjuvante (Scarlett Johansson), Melhor Figurino, Melhor Montagem e Melhor Design de Produção. Certamente, essas indicações não foram à toa. O roteiro é redondo, sem pontas soltas e favorece o desenvolvimento dos personagens, Scarlett arrasa como Josie, o figurino é caprichado, juntamente com todo o design. A montagem é dinâmica e funciona para passar o objetivo, como na parte inicial onde ouvimos “I Wanna Hold Your Hand”, dos Beatles, em alemão, e vemos imagens reais da euforia nazista em cima do “astro” Adolf Hitler. É contundente e cutuca esse fanatismo de pessoas que facilmente se tornam gado não-pensante em torno de ídolos e mitos.
Scarlett Johansson nos entrega, com extrema proficuidade, uma mãe, uma mulher, uma pessoa boa, a qual luta pelo que acredita da forma que pode, enquanto tenta guiar o imaginativo filho por um aprendizado sobre a vida. Tudo entre vinhos e dificuldades, na esperança por dias livres de paz. Segundo uma amiga, a crítica de cinema, Andrea Cursino, “um filme deve ter mensagem”. É o caso deste. Jojo Rabbit passa o recado de não desistir, de perseverar, de evoluir e aprender, algo que fica bem claro, no poema que surge ao final. É uma ode à liberdade de poder ser humano, para sorrir – e dançar.