O drama policial O Fantasma e a Casa da Verdade, do diretor nigeriano Akin Omotoso, cria do primeiro ao último minuto do filme uma atmosfera que envolve e sensibiliza o espectador. “E se eu estivesse no lugar da protagonista?” é a pergunta que vai ganhando forma na nossa cabeça à medida que a trama se desenvolve. A história que tem a conciliadora penal Bola Ogum como protagonista é um drama policial bem diferente do que estamos acostumados. Quem espera uma história de personagens com
características bem definidas e delimitadas, no melhor estilo “mocinho e vilão” pode ou ter uma decepção ou uma grata surpresa – tudo depende do quanto o espectador está disposto a acompanhar a trama.
Além disso, para um filme “policial”, parece arrastado. Não há ação, tiro, porrada e bomba como nos acostumamos, tanto nos blockbusters da vida, como no cotidiano de uma grande cidade brasileira. É muito mais cerebral, que vai construindo muito bem uma outra forma de desenvolver uma trama policial. Inclusive, é bastante simplista reduzir o filme a uma trama meramente policial. É carregada de drama (principalmente a segunda metade do filme), além de ser uma ficção que, infelizmente, tem incômodas e diversas semelhanças com a vida real, seja numa grande cidade nigeriana, seja com a realidade brasileira, marcada pela desigualdade social, machismo e outras mazelas.
Perdão
Entretanto, o trunfo de O Fantasma e a Casa da Verdade está justamente nestes dois pontos. Sem medo de “dar spoiler”, o maior vilão do filme são as circunstâncias que envolvem a protagonista. Mais do que nos colocarmos no lugar de Bola, acabamos nos perguntando: afinal, o maior criminoso é quem aperta o gatilho? E até que ponto há perdão, ou mais que isso, até que ponto estamos dispostos a perdoar?
Ótimo filme. Mas vá de coração aberto para ver um filme bem construído – e bem diferente do que a gente entende daquela construção de “herói” e “vilão”. Não há necessariamente quem se encaixe em um ou outro papel, mas todos envolvidos tem um pouco dos dois, como as coisas são na vida real. Tudo depende das circunstâncias e para os caminhos que elas nos dão. É um filme diferente em trama, ação, velocidade, e esse é sua melhor propaganda. Nota oito.
*Flavio Braga é professor de História, vocalista e baixista da banda Outros Caras e escritor. Escreve para as páginas Um Blog de Nada e Rolé Literário, que estão cobrindo a Mostra de Cinemas Africanos em parceria com o Vivente Andante.
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