Essa semana tem mais ópera de graça. O Met dedicará sua programação aos clássicos do século XX. Particularmente, é uma semana muito esperada por mim, pois boa parte das óperas que mais gosto foram escritas durante o último século. Aliás, a programação trará algumas das obras mais encenadas e pontuais, passando desde o início do século, até o finalzinho e contando com obras extremamente relevantes e que entraram com tudo no repertório operístico mundial.
31/08 – Elektra – Richard Strauss
Elektra estreou em 1909, em Dresden, veio logo após de Salomé, e assim como ela foi um verdadeiro escândalo no mundo da ópera. Ambas são óperas em um ato e uma cena, e de certa forma, deram início à ópera no século XX. A história é sobre Elektra, que busca vingança de sua mãe e o amante pela morte de seu Pai Agamenon.
Com uma orquestra enorme, 111 instrumentos, é a maior orquestra no catálogo operístico padrão. Strauss musicou a obra de forma muito intensa e detalhada, esforçando-se para passar sentimentos e mensagens musicalmente. A orquestra perpassa o tema de Agamenon durante toda a obra, um leitmotiv intenso, poderoso e sombrio. Outro destaque é o papel de Elektra, soprano intensa que passa toda a dramaticidade e intensidade de uma filha desesperada por vingança.
Filmagem de 30 de abril de 2016 e Nina Stemme, Adrianne Pieczonka, Waltraud Meier, Burkhard Ulrich e Eric Owens são parte do elenco. A regência é de Esa-Pekka Salonen.
01/09 – Peter Grimes – Benjamim Britten
Benjamin Britten foi o primeiro grande compositor de língua inglesa em alguns séculos. Compositor prolífico, tem muitas obras bem presentes nas casas de ópera ao redor do mundo, entre elas, Billy Budd, the turn of the screw, midnight summer dream, entre outras. Peter Grimes foi a segunda ópera de Britten e a primeira a ser considerada uma obra prima.
Britten a escreveu quando foi para os Estados Unidos com seu companheiro Peter Pears, tenor britânico que protagonizou praticamente todas óperas de Britten. Ao ler o poema narrativo de mesmo nome, Britten decidiu adaptar a obra. A história fora adaptada e algumas mudanças foram feitas do poema original, principalmente no protagonista, que originalmente era um vilão, mas foi tomando forma mais humana e de vítima, ao olhar de Britten e Pears, para quem o papel fora pensado desde o início.
Britten foi extremamente importante para a ópera no século XX e Peter Grimes é talvez sua obra mais impactante. Essa gravação de 15 de março de 2008 é uma excelente forma de conhecê-lo. Fazem parte do elenco Patricia Racette, Anthony Dean Griffey e Anthony Michaels-Moore. O regente é Donald Runnicles. Ópera de graça de qualidade.
02/09 – Nixon in China – John Adams
Estreou em 1987 na Houston Grand Opera, com direção de Petter Sellars, música de John Adams, e Libreto de Alice Goodman. O nome é auto explicativo, a história da ópera é a visita do Presidente Nixon à China em 1972. Nixon, anticomunista convicto, visitou a China de Mao Tsé-Tung em 1972, após algum tempo de negociações que procuravam estreitar relações econômicas. O tema era muito familiar e de certa forma recente, o que levantou interesse de muitas pessoas.
John Adams e Petter Sellars começaram uma longa parceria nessa ópera, parceria que viria a se repetir posteriormente. A música de Adams é muito diversa, tendo influência Jazzisstica, de toda tradição clássica ocidental, mas também do minimalismo de Phillip Glass. Nixon in China foi um grande marco na ópera americana. Desde sua estreia recebeu um misto de críticas positivas e negativas, acusando-a de ser uma moda passageira. Porém vem se provando o contrário, sendo encenada com alguma frequência, dentro e fora dos EUA.
Essa ópera de graça será uma gravação de 12 de fevereiro de 2011. Inclusive, foi a primeira montagem da ópera no Met. É fortemente baseada na montagem original, além disso, conta com regência do próprio Adams. Participaram do elenco Kathleen Kim, Janis Kelly, Robert Brubaker, Russell Braun, James Maddalena e Richard Paul Fink.
03/09 – Lulu – Alban Berg
Alban Berg foi um dos grandes compositores da segunda Escola de Viena, e aluno de Arnold Schöenberg, um dos músicos mais importantes do século. Quando morreu, Berg deixou Lulu incompleta, porém todo esqueleto e os dois primeiros atos estavam prontos, ficando o terceiro e último em aberto até ser concluído em 1979. Mesmo assim, Lulu foi um marco na ópera, trazendo música atonal e polêmicas envolvendo luxúria, violência, obsessão e outros temas que permanecem “chocando” o público das óperas mundo afora…
Assim como em Wozzek, obra anterior de Berg, Lulu é extremamente complexa musicalmente. A composição segue a técnica dodecafônica de Arnold Schöenberg, professor de Berg, porém, cria uma sequência tonal para cada personagem, criando uma espécie de Leitmotiv . A música experimental e complexa de Berg , juntamente com as temáticas exploradas, que abordavam sem pudor luxúria, violência, sadismo, sexo, assassinatos e temas delicados, fazem Lulu ser uma obra imperdível.
A filmagem apresentada é de 21 de novembro de 2015, participam da montagem Marlis Petersen, Susan Graham, Daniel Brenna, Paul Groves, Johan Reuter e Franz Grundheber. A regência de mais essa épera de graça fica por conta de Lothar Koenigs.
04/09 e 05/09 – Porgy & Bess – George Gershwin
George Gershwin nasceu no Brooklyn em 1898, na virada do século, começou uma carreira musical de enorme sucesso. Junto a seu irmão Ira criou peças e músicas para teatros musicais da Broadway, trabalhou em números de Vaudeville além de obras “clássicas”, de big band e todos os estilos dos anos 20 e 30. Começou na música cedo, sempre estando entre a música clássica, a popular e o jazz, estilo que crescia naquele momento. Esteve em Paris onde conheceu seu ídolo Ravel e também esteve presente no repertório de uma infinidade de músicos de Jazz. Sua música esteve e está em todos os cantos, presentes até no filme Fantasia 2000, com um curta maravilhoso que ilustra Rhapsody in Blue
Morte prematura
Porgy & Bess foi a incursão de Gershwin no ambiente da ópera, porém sem deixar de lado suas influências populares. A ópera estreou em 1935, e trazia um elenco 100% negro, fato incomum nos dias de hoje, ainda mais naquele momento. Baseada no romance e na peça “Pogy” , que se passa na Carolina do Sul. Porgy , pobre deficiente físico , tenta “resgatar” seu amor Bess de seu amante violento e dos perigos e violências da zona pobre onde viviam. Gershwin classificou-a como uma “opera folk”. Deveria ter estreado no Met, porém não aconteceu, sendo exibida na broodway em 1935. Gershwin morreu menos de dois anos depois, aos 37 anos com um agressivo tumor cerebral. Apesar de ter deixado um repertório enorme, Porgy and Bess foi sua única ópera.
Filmada, pouco antes das atividades serem interrompidas pela pandemia de Coronavirus, gravada em 1 de fevereiro de 2020. É a primeira vez em 30 anos que a ópera é exibida, sendo a última em 1990, um revival da primeira produção do Met, em 1985. Participam dessa apresentação Angel Blue, Golda Schultz, Latonia Moore, Denyce Graves, Frederick Ballentine, Eric Owens, Alfred Walker e Donovan Singletary, e a regência fica por conta de David Robertson.
06/09 – The tempest – Thomas Adès
Essa é a única ópera dessa semana que não é do século XX, mas do XXI. The tempest é composta pelo britânico Thomas Adès e escrita pela libretista Meredith Oakes. Baseada livremente na peça A Tempestade, de william shakespeare. A obra estreou em 2004 no Royal opera House em Londres quando Adès tinha apenas 32 anos. As comparações com Benjamin Britten foram grandes, assim aumentou bastante a pressão em cima do jovem compositor.
Com grande sucesso, The tempest começou a rodar o mundo e sedimentou o nome de Adès no mundo da ópera. As poucas críticas recebidas ficaram por conta do libretto, que teria mudado pontos da peça de shakespeare, porém o compositor não vê um problema nisso. Por ser recente, não há muitas filmagens disponíveis, o que já a torna imperdível. Porém, além disso, todas as críticas são ótimas por onde ela passa.
Filmagem de 10 de novembro de 2012. Enfim, é uma montagem bem contemporânea e regida pelo próprio compositor: Thomas Adès. Além disso, quem canta é Audrey Luna, Isabel Leonard, Iestyn Davies, Alek Shrader, Alan Oke, William Burden, Toby Spence e Simon Keenlyside.
Nova cara da ópera
Certamente, essa semana do Met é uma excelente oportunidade para conhecer obras contemporâneas, pois infelizmente não vemos todos os dias nos palcos, mesmo quando estão funcionando. Todas as seis obras são extremamente relevantes, de altíssima qualidade e imperdíveis. Apesar de ficar faltando algumas obras de compositores contemporâneos, inclusive algumas que o próprio Met já apresentou. Entretanto, espero que possamos contar com uma outra semana dedicada às óperas contemporâneas em breve.
Afinal, todos dias o Metropollitan Opera House disponibiliza as óperas em seu site metopera.org por volta das 18:30, assim como os programas (playbill) textos extras e bastante material extra.
Ótimas informacoes sobre as óperas dessa semana. Muito obrigaso