A série Utopia é perturbadora. Essa é a palavra que descreve perfeitamente a série que a Amazon lançou dia 30 de outubro. Com Gillian Flynn (autora de Garota exemplar e Objetos cortantes, entre outros) como showrunner, ela é baseada em série britânica homônima de 2013, criada por Dennis Kelly,que teve duas temporadas e virou hit.
Utopia não poderia estar mais próxima à nossa realidade: uma pandemia surge nos Estados Unidos matando de forma rápida e sem deixar sobreviventes. Porém, ela só afeta crianças. Outro detalhe: a pandemia foi prevista. Explico.
A história
Há uma HQ muito famosa e com seu séquito de fãs chamada Distopia. Ninguém sabe quem é o autor, porém há uma imensa onda de teorias da conspiração que a ronda: segundo seus seguidores (pois a HQ se torna quase um culto), ela previu várias doenças que surgiram pelo mundo, como SARS, na China. Então, encontram Utopia, sua continuação. E é aí que tudo começa.
A trama gira em torno de um grupo de fãs de Distopia que não se conhecem pessoalmente. Porém, quando ficam sabendo da existência de Utopia, eles, obviamente, precisam tê-la em mãos. Combinam de se conhecer onde está acontecendo o leilão da HQ, em um evento que em muito lembra a Comic-Con. Parece que tudo vai dar certo… só que não. Porque não são só os fãs de Distopia que precisam de Utopia, mas também uma corporação que vai fazer tudo pra conquista-la: até matar. E é aí que o negócio fica perturbador.
Não assista na hora do almoço
Tanto os agentes dessa corporação quanto outra personagem que aparece mais pra frente (não vou falar quem pra não dar spoiler), também em busca de Utopia, tratam a vida das pessoas como um nada e matam sem pensar. Por causa disso, a série tem sido muito comparada aos filmes de Tarantino e suas cenas cheias de sangue. Porém, elas lembram mesmo são cenas de quadrinhos, como as que praticamente todos os personagens estão atrás.
E também não fica tudo tão simples quanto uma grande aventura de “vamos escapar dessa galera que quer roubar nossa HQ”. Ah, não. Há uma motivação imensa por trás dessa busca, e ela não é nem um pouco simples. Os motivos vão sendo explicados ao longo dos oito episódios e o roteiro solta a solução dos mistérios em doses homeopáticas, pra te deixar grudado e apertar logo o “próximo episódio” assim que mais um acaba. Mas fique tranquilo, é tudo explicado (aos que ficaram traumatizados com Lost, como eu, podem relaxar). Particularmente, acho a GRANDE EXPLICAÇÃO do motivo de tudo acontecer um pouco fraca, porém, ainda assim, faz sentido e não tira nem um pouco o peso e a qualidade da série.
Mas, afinal, quem está na série?
Estão dizendo que o maior nome e o rosto mais conhecido de Utopia é John Cusack (que eu já falei por aqui na crítica sobre High Fidelity). Porém, ouso dizer que, talvez, para uma geração mais nova (ou não tão velha como a geração Alta Fidelidade, ou seja, a minha), o rosto mais conhecido seja de Rainn Wilson, o eterno Dwight, de The Office (e que todos amamos).
Rainn interpreta Michael Sterns, cientista que criou uma vacina para uma doença encontrada no Peru anos atrás e que talvez seja a solução para o novo vírus. Ou seja, logo de cara o espectador percebe que esse cara é um herói. Já Cusack, em sua primeira participação em séries, é Kevin Christie, dono de uma grande fábrica farmacêutica e que revela seu caráter aos poucos. A forma como o ator demonstra cada traço da personalidade de Christie nos mostra porque até hoje é um nome comentado.
Aliás, veja o trailer e siga lendo:
No grupo de aficionados por Distopia e Utopia, porém, só há um rosto que talvez o espectador conheça: o de Dan Byrd. Mas, mesmo assim, só quem assistiu muitos filmes e séries no início dos anos 2000. Ele viveu o filho de Courteney Cox em Cougar Town, e esse foi seu papel mais significativo. Jessica Rothe, Ashleigh LaThrop, Desmin Borges e Javon Walton, todavia, não são atores conhecidos do público brasileiro. Eles formam um grupo bastante heterogêneo, que fica ainda mais depois da adição de outros personagens ao longo dos episódios. São, porém, o típico grupo de losers que todo mundo se identifica (ou pelo menos losers como eu, admito com orgulho) e ama.
Como toda história de aventura (como Stranger Things, série com a qual Utopia também vem sendo comparada), eles precisam superar uma série de obstáculos internos, complexos e medos pra enfrentar a jornada. Porém, é interessante ver os personagens passando por conflitos bem atuais e sem o machismo comum presente em algumas dessas obras. Temos algumas cenas clichês de amor? Temos. Mas também temos cenas super badass de personagens totalmente inesperados, então vale muito a pena assistir!
Utopia, a série, assim como a HQ, previu a pandemia?
A saber, ao contrário do que muitos podem pensar, os produtores não resolveram lançar a série por causa da pandemia de Covid. Muito menos tiveram a ideia por causa dela. O coronavírus só se alastrou pelo mundo quando a série já estava em etapa de pós-produção. A autora Gillian Flynn e os atores John Cusack e Rain Wilson disseram que ficaram chocados quando tudo aconteceu. Por conta disso, também não sabiam como a série seria aceita pelo público. Por aqui, crio minha própria teoria da conspiração achando que a série previu o Covid. Será?
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