Os dilemas e dificuldades do mercado nacional do Hip Hop: essa é a mensagem que Hip Hop e Mercado: O Rap, dos diretores Leo Pappel e Rodrigo Furlani. Essa visão interna do mercado pode ser difícil de digerir para aqueles fora desse mundo. Isso, aliado ao preconceito geral contra o gênero musical, acaba criando um filme difícil para uma audiência média.
Baixos e mais baixos
O documentário é denso. A história lembra mais um vídeo educativo de cursinho do que um documentário profissional. Infelizmente a montagem é um caos, os comentários dos entrevistados são cortados abruptamente por uma narração tediosa, todos os gráficos parecem ter saídos do Telecurso e a sua inserção (principalmente as barras com os nomes dos entrevistados) é grosseira. Em alguns momentos você pode ver o letterbox, as barras pretas em cima e embaixo da imagem, aparecendo e sumindo, enquanto cortam a cabeça de um dos rappers.
Ainda mais, existem problemas em praticamente todos os outros aspectos técnicos do filme: o texto da narração é confuso e tedioso; o gerenciamento de cor não faz sentido, com cores completamente inconsistentes e artificiais ao longo de todo o filme; a música incidental é estourada e engole a narração, além disso a narração troca de mono para estéreo entre os takes sem nenhum aviso.
Ainda mais, um dos menores problemas, mas mesmo assim um sinal da falta de cuidado com o longa em geral, é a inconsistência entre os planos. Em uma cena, você vê o fundo desfocado, destacando o entrevistado do resto da imagem, na cena seguinte já é diferente, o fundo está todo em foco e não existe essa separação. A câmera também se mexe várias vezes no mesmo take, fazendo partes do corpo e objetos aparecerem e sumirem de forma completamente inconsistente.
Temas
Os relatos de vários músicos, produtores, estudiosos e empresários se juntam e dão uma mensagem direta: o mercado está crescendo muito mas o hip hop ainda encontra resistência com o povo brasileiro. Os artistas contam sobre suas batalhas para receber reconhecimento, pagamento justo e espaço na mídia. Além disso, você assiste a diversas pessoas de diversas origens falando do seu relacionamento com o gênero. A conversa ainda vai um pouco além do mercado e discute o espaço social do Hip Hop na massa jovem (primariamente paulistana) das periferias.
Finalizando, é necessário levar em conta o tamanho desse projeto. Hip Hop e Mercado: O Rap não é uma grande produção, e pelos crédito é possível ver como teve um time pequeno. Ao ler essa crítica é essencial considerar isso como uma limitação na qualidade final do filme. Eles não tiveram um diretor de fotografia, nem assistente de câmera, nem assistente de direção nem nada. Então, a produção, por mais bruta que seja, é uma obra a ser julgada com empatia, e é assim que ela foi julgada. Por fim, Hip Hop e Mercado: O Rap é um alerta, uma carta de amor e por um estilo musical marginalizado, menosprezar um trabalho íntimo e autoral é desrespeito pelo autor.
Enfim, veja a entrevista com os diretores:
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