Aline Costa é a criadora do blog/canal Turno Extra, o qual surgiu para relatar suas experiências pessoais com board games. Mais tarde, a pedidos de leitores, veio o canal no YouTube. A princípio, para aproximar a relação entre quem acompanha e quem produz o conteúdo. Gosta de eurogames e deckbuilding, mas não dispensa conhecer um bom jogo independente de qual seja o estilo. Organizou eventos e realizou monitoria de jogos durante alguns anos em diversos espaços. Formada em Letras-Português/Literatura, já prestou serviços de revisão de jogos, quadrinhos e livros.
O Turno Extra é um blog/canal cujo objetivo é a produção de conteúdo amplo e diversificado sobre board games, são textos e vídeos de resenhas, entrevistas, tutoriais, relatos de partidas, coberturas de eventos e notícias. Grande foco no mercado nacional.
Vamos conhecer um pouco mais sobre boardgames e o seu trabalho.
Sergio Menezes: Como começou seu amor pelos Board Games?
Aline Costa: Acho que começou na época do início do sucesso da série de TV de Game Of Thrones, quando vi o anúncio do lançamento de um jogo de cartas temático aqui no Brasil. Eu já tinha experiência jogando Magic The Gathering e um jogo de miniaturas chamado Heroclix, mas esses são jogos que funcionam dentro de um universo bem próprio, como eventos
exclusivos e voltados para o cenário competitivo. Jogar o Game Of Thrones LCG me fez conhecer os eventos dos chamados jogos modernos.
Nesses eventos, no geral, vários jogos diferentes são jogados juntos em diversas mesas distintas e o objetivo é mais centrado na diversão do que na competição. Assim fui conhecendo cada vez mais novos títulos, tanto nacionais quanto importados, e o interesse foi crescendo junto com a coleção. Os jogos modernos oferecem uma diversidade tão grande de mecânicas e temas que impressiona muito quando a gente começa a conhecê-los. Cada novo jogo parece um novo universo. Mesmo depois de algumas centenas de jogos jogados, eu ainda volta e meia sou surpreendida.
SM: Qual seu estilo de Board Game favorito e por quê?
Aline Costa: Pergunta difícil. Eu me considero bastante eclética em termos de jogos. Porém, acho que se for para citar um estilo como principal seria o chamado Euro. No geral, são jogos em que os jogadores administram algo e o objetivo é ser o mais eficiente, fazendo assim uma pontuação maior do que de seus oponentes. Não há confronto direto entre os jogadores e todos jogam a partida até o final, uma característica que acabou meio que se tornando regra nos jogos modernos até mesmo de outros estilos.
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SM: Os Board Games vem numa crescente, abrindo locais para jogos em família e amigos, quais seriam suas apostas para as próximas conquistas do mercado?
Aline Costa: Não é exatamente uma aposta, é mais uma torcida pessoal. Eu espero muito que os jogos modernos deixem de ser um produto de nicho e altamente elitizado. Acho que a popularização de locais em que as pessoas podem ter acesso facilitado a esses jogos é um caminho. Acho que um outro, e esse locais podem ter um papel difusor importante nisso, são os jogos nacionais. Nós temos game designers incríveis que, além de criarem com tanta qualidade quanto os estrangeiros, podem atender as especificidades do nosso mercado e público. Um grande desafio a ser vencido ainda é romper com o modelo que vem lá de fora e
pensar mais no nosso próprio público do que no deles.
SM – Se tivesse que indicar jogos de entrada para adultos, quais seriam? E para crianças e adolescentes?
Aline Costa: Para jogo de entrada, eu não faço muita diferenciação entre adultos e adolescentes. A separação maior é realmente quanto a crianças, mas muitos jogos “para adultos” dá para jogar com crianças tranquilamente. Um jogo que funciona muito bem para todas as idades é o Dr. Eureka, ele é um jogo de destreza e agilidade. No Brasil, tivemos a abertura recentemente uma editora especializada no público infantil que é a Curió Jogos, eles têm dois títulos lançados até agora – Macacos Me Mordam e Quero Quero.
Para os adultos especificamente, os anos passam e o Coup continua sendo sucesso absoluto, é um jogo de blefe para quem
curte intriga. Eu gosto muito também de um jogo chamado Córtex, que é de desafios de raciocínio. Falando de jogos nacionais, eu indico os jogos da TGM Editora, o foco deles é jogos festivos, tem uns títulos ótimos e com um trabalho gráfico bem legal. Eu gosto muito de um jogo deles chamado Quix, ele é uma adedanha mais organizada e com umas regrinhas a mais para ficar mais divertido. Um outro nacional que as pessoas costumam gostar muito é o Pablo, um jogo de cartas musical, os jogadores precisam cantar músicas com as palavras das cartas.
Para encerrar, eu indico um jogo que saiu recentemente que é o Sereias, ele é um jogo de cartas em que as sereias capturam barcos. É um jogo muito divertido e a arte é incrível, não apenas pela beleza, mas por trazer
uma representação feminina bem diversificada e nada sexualizada.
SM – Você participou da Gen Con, como foi essa experiência com outras criadoras de conteúdo e desenvolvedoras?
Aline Costa: Foi uma experiência sensacional que me colocou em contato com muita gente que eu não conhecia. Acho que essa é uma das vantagens de um evento assim online, a oportunidade de reunir pessoas dos mais diferentes lugares. Nos eventos presenciais não há tanta diversidade, acaba ficando mais restrito aos mesmos grupos locais. Além disso, o evento abriu um espaço incrível para discussão de pautas sobre representatividade, algo muito necessário de ser falado e que ainda está acontecendo a passos bem lentos e tímidos na área dos jogos analógicos.
Um evento do porte da Gen Con colocar a questão com destaque marca um posicionamento importante, pois incentiva que a discussão se espalhe e dá visibilidade para o trabalho de pessoas fora do padrão “homem cis hétero branco”. E quem sabe algum dia essas pessoas possam ser chamadas apenas para falar sobre os jogos e não como é ser “não-padrão” no meio dos jogos, mas enquanto esse dia não chega é preciso seguir lutando para ocupar os espaço e torná-los mais plurais.
SM – Se você fosse criar um Board Game, como seria? Tem essa vontade de um dia criar algum?
Aline Costa: Eu gostaria bastante de criar um jogo algum dia, apesar de achar essa uma possibilidade bem remota. Se eu fosse criar um jogo seria algo pequeno, com poucos elementos, regras simples e tempo de partida curto. Apesar de ser uma grande apreciadora de jogos longos, sempre que olho um jogo e penso “gostaria de ter criado isso” são jogos menores. Se eu pudesse aliar esse formato com temas da cultura brasileira seria perfeito, há muito a ser explorado e eu acho que um formato mais compacto de jogos facilitaria alcançar um público mais amplo.
Eu admiro muito o game design oriental em geral. Gosto bastante do trabalho de uma editora japonesa chamada Oink Games. Eles têm um catálogo muito interessante de jogos minimalistas, mas que são inovadores e possuem um trabalho gráfico incrível, algo que considero muito importante. No Brasil, a Diceberry Editora tem um trabalho bem legal com microjogos, vale a pena procurar conhecer.
SM – Soube que teve algumas experiências ruins em eventos e locais, que tipo de situações precisam mudar nesse meio?
Aline Costa: Acho que o que precisa mudar basicamente é que os relatos referentes a situações abusivas pararem de ser ignorados pela comunidade. O pior de tudo nas experiências ruins que eu tive foi ver que ninguém se importava. Em geral, as pessoas se incomodavam mais com o fato de eu falar sobre o assunto do que com o que tinha acontecido comigo. Isso fez eu me sentir muito isolada, o que gera um efeito muito louco que é você acabar se sentindo errada mesmo tendo plena consciência que não é verdade. Você acaba tentando encontrar justificativas para as ações das pessoas.
SM – Por fim, e não menos importante, quais próximos projetos, algo que pode nos adiantar?
Aline Costa: Eu sigo com meu canal no Youtube e o meu blog tentando sempre melhorar e diversificar o conteúdo. Não é uma tarefa fácil, eu basicamente faço tudo sozinha, então por vezes é um esforço que não aparece muito para quem está de fora. Eu sempre produzi o meu conteúdo muito voltado para o jogo nacional e a ideia é seguir cada vez mais nesse foco. Na minha avaliação, algo que precisa ser melhorado ainda é a questão da diversidade. Então é algo que pretendo aumentar a minha
atenção, tentar dar uma visibilidade e destaque maiores ao trabalho de membros de grupos minoritários dentro da nossa comunidade.
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