A bifurcação do dia, a curva que o separa da noite, uma fronteira que guarda a memória de todos os passos das calçadas do mundo.
Poeira cósmica de automóveis e obras, um construir-se perenemente por dentro. Estâncias dos instantes, vielas da cidade, uma rua infinita sem grades.
Passos por dentro de portas que guardam o outro lado do tempo-fuga.
O mar que escorre pelos poros da terra, inundou o alicerce das cidades. Uma onda de frequência pelo avesso. Às vezes tudo se faz simples. A fuga do tempo em sua essência de esvair-se, retorna à célula-unica-clausura, que guarda toda a liberdade do desenvolvimento em corpo, pele e escrita. Um papel que se adentra pelo dia da noite, pela ausência de todas as ausências.
Não temos o nosso eu. Nem temos sequer o vestígio do nosso outro. Não temos a nós mesmos.
Talvez tenhamos a bifurcação, a noite do dia em curva. Esse esvair-se que é viver e ter o tempo se alastrando pelos oceanos, fluxos da nossa vida. Pensei nessas coisas com o mesmo cuidado de quando tinha 15 anos. Com a mesma melancolia de lágrimas que me afogavam todos os momentos de vida. Uma vida que contém outras vidas, nossas células inteiras, pequenas estações constantes: movimentos de (re)criações.
Quando se respirava depois de um lampejo, voltavam os minutos dissonantes em desalinho. O desalinho, duas partes diferentes com um miolo em simultâneo, como a curva se faz interseção entre a noite e o dia. Parece que viver é estar em perene miolo. Quando eu era criança eu gostava de falar “miolo do mundo”. E continuo ao menos escrevendo miolo-do-mundo.