A princípio, Três Verões parece ser um filme exclusivamente sobre a derrocada econômica e social de uma família rica fluminense. O chefe de família metido em falcatruas se perdendo num mar de lama política. Na realidade, o filme mais é sobre as impressões de uma caseira de origem humilde, seja lá o que isso quer dizer para você, chamada Madá (Regina Casé) quanto a esse mundo sujo e como ela pode se beneficiar disso.
Moralmente esse é um filme muito ambíguo. Madá, está ciente dos esquemas do seu chefe Edgar (Otávio Müller), porém, não faz nada que torne clara a sua posição. Afinal, ela tem motivo pessoais para torcer pelo sucesso do seu chefe.
Coincidências e problemas
Curiosamente o filme está sendo lançado num momento onde temos um caso muito similar na boca do povo. As recentes rachadinhas e laranjais, que harmonizam lindamente com essa pilantragem de marca maior. Os 10.000 reais do longa lembram muito os 89.000 que estão em voga agora. Esse acaso do destino vem num bom momento para divulgar Três Verões, mas não é impactante o suficiente para salvá-lo desta e de outras críticas tépidas.
Apesar do plot interessante, acabamos encontrando um filme cansativo, por vezes tedioso, que se arrasta nos momentos mais simples e teima em repetir à exaustão passagens que de primeira já haviam sido claras. Esse desenvolvimento lento trata a audiência com uma certa condescendência desnecessária, como se não fôssemos capazes de entender que um personagem mais pra frente é mal ator ou que a namorada estrangeira do herdeiro não entende português. Essas prolongações sucessivas e repetitivas devem estar tentando esticar o filme que mal passa dos 90 minutos.
O lado quase bom
Honestamente, o roteiro parece esgarçado para chegar a uma duração mediana de longa-metragem. Mas vendo pelo lado bom temos duas atuações muito expressivas, vindas da nossa protagonista e seu parceiro/antagonista/amigo, “seu Lira” (Rogério Fróes). Este é pai do Edgar, cardíaco e aposentado que passa quase todo o filme meio esquecido e ignorado. Porém, após seu abandono em Angra pela família, vemos uma mudança drástica no seu espaço como personagem. Lira (mesmo a contragosto) acaba convivendo mais com Madá, assim ele a ajuda a transformar o casarão num Airbnb e juntos eles tem as poucas cenas emocionalmente carregadas do filme. Esse convívio gera uma amizade profunda que foi pouco explorada.
De resto o filme é neutro, como uma fatia de pão esperando um recheio que parece nunca chegar. Os diálogos são sem alma, a atuação passável, com todos os aspectos técnicos (som, fotografia, produção, etc) bem feitos, mas brutalmente desprovidos de estilo. Não é exatamente ruim, mas quase não chega a ser bom.