“Dois Estranhos” (Two Distant Strangers) é um filme da Netflix com apenas 32 minutos, mas que fala de uma longa história. A princípio, quis assistir porque o rápido trecho que vi me lembrou “Feitiço do Tempo” (Groundhog’s Day), um ótimo clássico com Bill Murray, sobre um homem preso no mesmo dia. Carter, um jovem negro, está vivendo a mesma coisa, o mesmo dia se repete, e se repete, e segue parecendo nunca ter um final feliz.
Carter é o retrato de todo jovem negro preso numa teia de racismo estrutural
O filme tem tanta simbologia em tão pouco tempo que se faz maior. Mostra que não importa o que o negro faça, ele é alvo. Enredado em um sistema onde está todo dia na mira, num ciclo vicioso sem fim. É possível perceber referências ao continente africano e as atuações do elenco dão conta do recado.
A partir da ficção científica para acessar e exibir a realidade com suas metáforas, “Dois Estranhos” é sensacional em sua crítica contundente e forma de mostrar a luta do cotidiano de um ser humano que só quer poder fazer as coisas simples da vida, em verdade, somente quer ter o direito de viver. George Floyd é lembrado do início ao fim. Assim como muitos outros nomes de seres humanos que foram assassinados pelo simples fato de terem a cor negra em suas peles.
Interessante dizer aqui que vi esse filme na exata semana em que comprei um livro de um morador de rua, negro, chamado “África: O Povo” de Carlos Comitini, o qual comecei a ler. É de 1982 e já começa falando exatamente do racismo, ao trazer pontos da Declaração sobre a raça e os preconceitos raciais produzido pela Unesco. Sim, o racismo está engendrado em nossa sociedade, mas ainda há muitos que negam, e, dessa forma, ajudam a manter tudo igual, ou seja: desigual.
O curta-metragem foi indicado ao Oscar. Merecidamente.