Quem tem na memória Zac Efron em High School Musical ou nas comédias que ele costumava fazer quando jovem, vai se surpreender com o ator em Garra de Ferro. Porque, sejamos sinceros, o chamariz desse filme é ator, que andava bem sumido do grande público. Isso acontece porque o tema do longa é conhecido somente por um grupo bem nichado de pessoas, as pessoas que gostam de lutas. Apesar de The Iron Claw (no original) contar a história de uma família bastante conhecida nos Estados Unidos, os Von Erich, ela não é conhecida no Brasil. A não ser, talvez, pelo nicho previamente comentado dos lutadores ou de amantes de luta. Isso porque os Von Erich são uma família muito tradicional no meio da luta livre, com alguns lutadores, inclusive, mentindo fazer parte da família para ganhar maior notoriedade.
Porém, nem tudo são flores em relação a eles. Muito pelo contrário. Os Von Erich foram vistos por muito tempo como uma família amaldiçoada. Desde que o patriarca da família, Fritz, conhecido como Garra de Ferro em seus áureos tempos, perdeu o filho mais novo, Jack Jr., aos 5 anos de idade.
Família de lutadores

Seus quatro filhos restantes – Kevin, Kerry, David e Michael – enveredaram, como o pai (e muito por sua influência), para a carreira de luta livre. Apesar de o foco ser em Kevin, personagem de Zac, não tem como deixar os outros de fora já que não haveria Kevin sem a família. O filme mostra como sua família e, principalmente, seus progenitores (no caso, o pai) têm grande influência em quem você vai se tornar. Seja isso algo positivo ou algo negativo.
É, no fim das contas, um filme sobre convivência, determinação e, acima de tudo, os efeitos do machismo na criação de homens. É interessante porque, geralmente, os filmes costumam focar no que o machismo acarreta para as mulheres. Em Garra de Ferro, porém, fica clara sua consequência nos homens. Não é algo, porém, militante ou professoral. O filme só mostra as ações e reações das atitudes das pessoas. E isso não é militante ou querer educar, é simplesmente como o mundo funciona. No fim, a vida é determinada por suas escolhas.
Isso fica claro ao observar como cada um dos irmãos age a partir da mesma educação que tiveram. Como eles reagem a partir de cada golpe levado (desculpe o trocadilho). E como é sobreviver em um mundo onde você só é amado por seu pai se você tiver sucesso profissional. E mais: se fizer exatamente aquilo que ele quer que você faça. Afinal, a maldição da família Von Erich tem um nome: Fritz Von Erich (que, a fato de curiosidade, era o nome artístico de Jack Barton Adkisson).
Zac Efron
Chegamos nele, a estrela do filme. Esqueça o menino magrinho com cara de bonzinho que você conheceu nos musicais da Disney. Zac agora está com 36 anos e, no longa, está forte como um touro. Tudo parte da excelente caracterização do filme, já que lutadores de luta livre, principalmente nos anos 1980, eram extremamente fortes. Para alcançar o corpo musculoso do personagem, Zac treinou muito. Além disso, deve ter estudado bastante, também, para mostrar todas as nuances emocionais de Kevin. Isso deve ao fato de o personagem não ser muito falante, e, com isso, o ator precisar de muitas variações físicas para expressar suas emoções. Tal fato demonstra a versatilidade de atuação de Zac Efron. Algo que, até o filme, não era muito percebido pelo público em geral, em grande parte pela escolha de filmes em que atuava.
Com uma performance precisa, Zac consegue atingir o público e fazer o espectador querer abraçá-lo nas cenas mais emotivas. Apesar de estar grande e musculoso, o ator consegue demonstrar toda a fragilidade de Kevin Von Erich. E fazer o público enxergar um pequeno menino frágil diante da grandiosidade que ele está não é fácil, e não é para poucos. Acredito que Zac Efron conseguirá sua redenção aos olhos do espectador e será visto, finalmente, como um grande ator. Nota mil pra ele.

Elenco de excelência
Se o espectador sente raiva de Fritz, isso cabe, certamente, à atuação de seu intérprete, Holt McCallany. O ator interpreta uma pessoa fria e totalmente condicional de forma tão precisa que não tem como o público não odiá-lo. Porém, ao mesmo tempo, é possível entender o motivo de ser assim. Claro que isso também faz parte de um excelente roteiro, que não constrói nenhum personagem de forma maniqueísta e demonstra as complexidades que o ser humano carrega. A direção, obviamente, também tem imensa “culpa” em relação a isso. Portanto, Sean Durkin é duplamente responsável por um filme excelente, já desempenha ambos papéis no longa, roteirista e diretor. Inclusive, uma pena Durkin ter sido ignorado pelo Oscar, pois tanto ele quanto o próprio filme mereciam uma indicação. Assim como Zac e até mesmo Harris Dickinson e Jeremy Allen White, dois dos irmãos Von Erich.
Jeremy Allen White e Maura Tierney
O mundo está, cada vez mais, e principalmente a partir da série The Bear (O Urso, em português), conhecendo o talento de Jeremy Allen White. Em Garra de Ferro, o ator, mais uma vez, demonstra toda sua versatilidade e profundidade dramática. Apesar de só aparecer na metade do filme, Jeremy rouba as cenas desde o momento em que o personagem é apresentado.
O mesmo acontece com Maura Tierney. Todavia, apesar de estar presente em tela desde o início, já que dá vida à esposa de Fritiz, a atriz é bastante mal utilizada. Seu talento é tão grande que é impossível não desejar que ela tivesse presente em mais cenas. No final, o tanto que ela passa de emoção sem precisar falar nada é de arrepiar! Outra que esnobada pela maior premiação cinematográfica do ano. Pelo menos, na temporada de prêmios, o filme ganhou pelo conjunto do elenco no Boston Society of Film Critics Awards e no National Board of Review, que também colocou o longa entre os 9 melhores do ano.

Caracterização
Não tem como não salientar o excelente trabalho de caracterização dos personagens. Figurino, desing de produção, maquiagem, todas essas áreas precisaram estudar muito a época para transpor exatamente como eram tanto o cenário quanto os personagens. Apesar de os cabelos ficarem um pouco ridículos e dar pra perceber as perucas, o restante, todavia, está impecável. Transporta o espectador para os anos 1980 na hora.
Para fechar, gostaria de falar somente de mais um ponto negativo, um dos poucos do filme, que foi a tentativa de um plano-sequência em uma das cenas. Apesar do plano-sequência ser algo interessante e que sempre causa impacto no público – portanto, é algo que os diretores sempre tentam fazer, pelo menos em um de seus filmes -, o em questão não causa uma boa reação para quem assiste. Óbvio, sabemos que todo plano-sequência precisa de um ensaio exaustivo e de uma coreografia precisa para dar certo. Mas é possível notar que ele obteve êxito exatamente quando essa coreografia não é percebida. O que não é o caso no longa. A cena ficaria melhor, portanto, sem essa tentativa.
Contudo, tirando esses pequenos detalhes negativos, é um filme que surpreende. Não deixe de assistir a partir do dia 07 de março, próxima quinta-feira, nos cinemas de todo o Brasil.
Por fim, fique com o trailer:
Ficha Técnica
GARRA DE FERRO (IRON CLAW)
Estados Unidos, Reino Unido | 2024 | 130 min. | Drama, Biografia
Direção e roteiro: Sean Durkin
Produção: Sean Durkin, Juliette Howell, Angus Lamont, Tessa Ross, Derrin Schlesinger
Distribuição: California Filmes
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