Cinema
Crítica | ‘Boa Sorte, Leo Grande’ tem empatia e sensualidade
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2 anos atrásem
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Rodrigo AdamiO longa Boa Sorte, Leo Grande se passa quase todo em um quarto de hotel com uma professora aposentada de 55 anos e um jovem profissional do sexo, e o público dificilmente irá querer sair de lá. Seja pelo erotismo, pelo humor agradável ou pelos desabafos que aproximam os personagens da realidade, trazendo importantes reflexões.
Nancy Stokes (Emma Thompson) teve um casamento em que nunca pôde explorar sua sexualidade, e após a morte do marido, tenta recuperar o que essa vida lhe privou. Ela procura os serviços de Leo Grande (Daryl McCormack), um atraente garoto de programa. Mas Nancy não se sente bem com o próprio corpo e seus ainda básicos desejos em relação ao sexo. Se o filme abordasse apenas esse ponto já seria suficientemente interessante, mas ainda há bons diálogos sobre maternidade, rejeição, conflitos geracionais e sobre a prostituição.
Tentando quebrar uma barreira de desejos reprimidos e pensamentos conservadores é que Leo acaba trazendo todos esses assuntos à tona. O jovem já teve que lidar com diversos caprichos de seus clientes, experiência que o faz ser mais empático aos temores de Nancy. Mas ele que inicialmente se mostra mais seguro e confiante, aos poucos vai expondo suas inseguranças e mágoas.
Atuações impecáveis
Emma Thompsom mostra mais uma vez o porquê de ser considerada uma das melhores atrizes britânicas. Sua atuação entrega todas as mágoas que a personagem carregou pela vida e a insegurança que traz consigo. Nancy é tão reprimida que não ousa tocar Leo sem pedir permissão, e quando toca é como se estivesse descobrindo novas sensações.
Já McCormack seduz Nancy e também o espectador, ele fascina pelo seu jeito educado e carismático de falar. Mas também consegue passar toda a seriedade que o personagem tem para com seu trabalho, sutilmente ele demonstra frustração e irritação quando perde o progresso que havia feito e sua cliente volta a se retrair.
A interação entre os dois é de uma delicadeza e sensualidade que prende o espectador no desejo de ser mais íntimo dos personagens. O filme nos entrega essa intimidade não só durante o sexo mas também quando essa relação passa dos limites no ápice do conflito. A direção de Sophie Hyde é acertada, não mostra demais, mas é o suficiente para aquecer o público depois de segurá-lo por uns bons minutos de diálogos acertados. Mérito também do excelente roteiro de Katy Brand.
O longa estreia nos cinemas nacionais no dia 21 de julho.
Estudante de Comunicação Social com foco em Cinema. Além dos filmes, amo quadrinhos e vídeo games, sempre atrás de boas histórias.
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‘Vermelho Monet’ estreia esta quinta-feira nos cinemas
Premiado em diversos festivais, o longa escrito e dirigido por Halder Gomes investiga o processo artístico e o mercado das artes.
Publicado
1 dia atrásem
9 de maio de 2024Por
Livia BrazilExibido em 15 festivais pelo Brasil e o mundo, e ganhador de mais de dez prêmios, Vermelho Monet, de Halder Gomes chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 9 de maio com distribuição da Pandora Filmes.
A saber, o longa conta com a participação de atores e parte da equipe de portugueses. Além disso, tem apoio da Lei do Audiovisual, Fundo Setorial do Audiovisual.
Produção
Mais conhecido por suas comédias, como Cine Holliúdy e Os Parças, Gomes aqui apresenta um drama marcado pela discussão sobre a arte e a transformação dela em mercadoria.
O protagonista é Johannes Van Almeida, interpretado por Chico Diaz, um pintor pouco aceito no mercado, que está perdendo sua visão.Ele encontra na atriz Florence Lizz (Samantha Müller) a inspiração para realizar sua maior obra, e seu caminho também cruza com o de Antoinette Lefèvre (Maria Fernanda Cândido), uma marchand influente que tem o poder de transformar o quadro numa obra famosa e valiosa.
“Fazer Vermelho Monet não foi muito diferente de fazer uma comédia em seu processo físico. Todos os esforços e etapas que constituem a realização de um filme estão presentes no drama e na comédia. Além do gênero drama em si, esse trabalho também é contado pela sua estética, referências artísticas, trilha musical, ambiências e simbolismos. A condução rítmica também é outra, com tempo de tela mais largo para assimilação e contemplação de suas simbologias e estética, respectivamente”, explica o diretor, que também assina o roteiro do filme.
Foto: Divulgação.
Trilogia Artística
Gomes conta que esse é o primeiro de uma planejada trilogia, e o próximo deverá ser Azul Vermeer. “O filme transborda da vontade de pôr na tela o que mais me fascina: pintar, ler sobre arte e ver pinturas. Viajo pra visitar museus e galerias incessantemente e passo grande parte do meu tempo livre pintando ou desenhando. Nessas andanças sempre me deparo com pinturas que aguçam a curiosidade de saber quem e o que está além do alcance dos olhos. Para isso, viajo pra lugares pra entender o que certos pintores viram e o que os fizeram pintar daquela forma. Já fui três vezes a Delft, Países Baixos, para decifrar o olhar, luz e paleta de Vermeer.”
É de se destacar também, dentro do filme, a importância da fotografia de Carina Sanginitto, e a direção de arte de Juliana Ribeiro, ambas premiadas em festivais, e cujos trabalhos ajudam na evocação das cores e luzes de Monet. Além das visitas ao museu, ao lado delas, Gomes também destaca que fizeram um estudo de paletas e tons de pele muito elaborados – em especial a progressão da luz na tez de Florence Lizz que, aos olhos de Johannes Van Almeida, tem cor – do dessaturado ao P&B – e textura de mármore.
Enredo
Definindo o filme como “uma grande história de amores desencontrados, intensos, tortuosos e trágicos”, Gomes coloca as personagens em questões existenciais profundas transpostas à arte que, por sua vez, é a única e provável tábua de salvação de todos eles – cada um ao seu modo.
“Para abrir essa caixa de pandora, não podia ser outra cor senão o vermelho. É a primeira cor que o ser humano teve o domínio de sua manipulação. É a cor mais forte, mais vibrante, com as maiores potencialidades poéticas, oníricas e simbólicas. O vermelho é a ambivalência do vigor, fogo e plenitude, associado a sua extrema fragilidade se misturada com outras cores. A complementaridade cromática e dissolução metafórica dos personagens representados pelas cores é a principal condução simbólica do filme. Vermelho Monet, em si, é uma cor simbolista criada para o título numa alusão aos vermelhos dos entardeceres impressionistas de Claude Monet.”
Foto: Divulgação.
Mercado da arte
Num primeiro momento, um filme sobre alta cultura pode não parecer ter um diálogo direto com o Brasil contemporâneo, mas o diretor ressalta que o mercado de arte é uma realidade que pode se mover por caminhos tortuosos em todo o mundo.
“Neste exato momento, no Brasil, deve ter alguém colecionando arte, lavando dinheiro com obras de arte, lucrando, manipulando valor, falsificando pinturas e até mesmo roubando quadros e esculturas em igrejas, residências e galerias. Assim como também tem milhares de pessoas visitando nossos museus e apreciando obras e a história da arte.”
“Neste mesmo Brasil, milhares de artistas estão lutando para viver da sua arte. De certa forma, este cenário expõe as vísceras da discrepante desigualdade social em países como o nosso, onde neste exato momento tem alguém negociando sorrateiramente obras de arte por valores milionários, enquanto alguém está passando fome e morando na rua. A arte está em todo lugar, o que faz o universo provocativo abordado em Vermelho Monet ser atemporal e universal.”
Por fim, fique com a sinopse oficial
Johannes Van Almeida (Chico Diaz) é um pintor de mulheres sem aceitação no mercado; obsoleto. Com a visão deteriorada e à beira de um colapso nervoso, encontra em Florence Lizz (Samantha Müller) – uma famosa atriz em crise e insegura na preparação para o seu filme mais desafiador – a inspiração para realizar sua obra prima. Antoinette Lefèvre (Maria Fernanda Cândido) é uma influente marchand/connoisseur de arte que fareja o valor de obras de arte quando histórias de inspiração viram obsessão entre pintores e modelos.
Ficha Técnica
VERMELHO MONET
Brasil, Portugal | 2024 | 135min. | Drama
Direção e Roteiro: Halder Gomes.
Elenco: Chico Diaz, Maria Fernanda Cândido, Samantha Müller, Gracinda Nave, Matamba Joaquim, Duarte Gomes.
Produção: Mayra Lucas e Halder Gomes.
Empresas produtoras: ATC e Glaz.
Distribuição: Pandora Filmes.
POR FIM, LEIA MAIS:
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