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Atravessa a Vida | O novo filme de João Jardim e a luta do ENEM

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Festival Internacional de Documentários Atravessa a Vida

“Atravessa a Vida” é o novo filme do cineasta João Jardim. A princípio, sua premissa é a de acompanhar os estudantes de uma escola pública de um colégio no município de Simão Dias, interior do Sergipe, durante a preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM.

Dessa forma, o diretor retoma o tema da educação, abordado por ele no aclamado documentário “Pro dia nascer feliz”. O tema da pressão que alunos do Ensino Médio sofrem para decidir tão cedo o que vão querer da vida e o nível de exigência que paira sobre eles para serem aprovados no ENEM já havia aparecido no filme de 2006. Porém aqui ele aparece como o tema principal.

“Atravessa a Vida” acompanha o cotidiano do Ensino Médio de uma escola pública. O ponto de partida é refletir sobre as diversas pressões externas e internas sofridas pelos alunos frente a realização do ENEM.

Potencial para ser algo

Afinal, em meio a tantas polêmicas e discussões acerca da realização da edição atual do ENEM, que está marcada para os dias 17 e 24 de janeiro, com pedidos de adiamento, estados pedindo suspensão, este filme aparece como mais atual e importante do que nunca. O filme não declara nenhum posicionamento, mas sim dá voz aqueles mais envolvidos pelo processo: os alunos. Seu fim não é informar, mas levar a uma reflexão.

No início de “Atravessa a Vida”, o professor de filosofia fala sobre o potencial de poder ser algo em cada pessoa. Algo que não está ainda pré-determinado. Cada vez mais cedo, as escolas e instituições em geral e pais e responsáveis exigem que jovens realizem escolhas conscientes sobre que carreira irão seguir.

Porém é difícil saber o que você quer da vida quando se é tão jovem. Há toda uma ironia neste pensamento quando se pensa que o mercado de trabalho despreza a inexperiência da juventude. O filme apresenta como os jovens vão passando por diversos ciclos ou fases de amadurecimento, seja em relação a sua própria vida ou até seu papel na sociedade ao apresentar jovens votando pela primeira vez.

Aulas reflexivas

Em determinada parte, uma aluna entrevistada diz que tem medo das fases que está passando e como lidar com elas. Atualmente, muitos colégios e instituições não levam em conta isso e acabam colocando uma pressão psicológica tão grande sobre os alunos que eles não conseguem lidar com tamanha responsabilidade.

No Centro de Excelência Dr. Milton Dortas, os professores aparecem dando aulas em abordagens que se afastam das aulas puramente conteudistas e que muitas escolas acabam adotando para garantir um grande número de aprovados no ENEM. Especialmente escolas particulares que podem usar isso como propaganda.

Nas aulas são abordados temas do ENEM, porém de forma reflexiva por meio de debates e com os professores como mediadores e não donos do conteúdo. A presença do uso de músicas também é outro ponto marcante.

Jovens em construção

“Atravessa a Vida” apresenta uma gama de aspectos que podem minar o desempenho desses jovens como conflito de interesses com pais, sintomas de depressão vistos como frescura, aspectos psicológicos e financeiros e dramas familiares. Se fosse realizado no cenário atual, ele também abordaria provavelmente todas as dificuldades causadas pela pandemia da COVID-19.

Como já dito, o filme é muito mais reflexivo do que objetivo. Seu propósito não é criticar o ENEM, mas apresentar como o mesmo deve ser visto como um instrumento de formação do aluno, muito mais que um instrumento de avaliação. Uma exame não é o suficiente para definir nem presente nem futuro de nenhum jovem.

Ao longo do filme, Jardim apresenta diversas imagens de obras. A escola está passando por uma grande reforma. Estas imagens servem como uma metáfora para os alunos que são indivíduos em formação, em construção. Suas personalidades, desejos e objetivos estão sendo construídos aos poucos como a estrutura de uma escola.

A escola como um personagem

A diretora apresenta os diversos obstáculos e problemas que a escola enfrenta, como a ausência de professores, falta de material, as ausências e atrasos dos alunos do turno noturno e até as obras de reforma. Porém, estes problemas não são o cerne do filme. O que realmente interessa ao diretor é como esses eventos afetam ela e especialmente os alunos.

O filme acaba sendo uma espécie de diário da escola, a qual acaba se tornando uma espécie de personagem, cujo cotidiano vai aparecendo na tela. Seja no aniversário surpresa para as professoras, aulas, eventos e atividades da escola e também da cidade. A escola aparece como um lugar de afetos, uma espécie de fuga para alunos com famílias desestruturadas.

Alunos: um personagem coletivo

Esse filme se diferencia bastante de “Pro dia nascer feliz” em sua estrutura de narrativa. Enquanto o filme de 2006 pautava-se em blocos que eram guiados por personagens individuais, este filme se baseia mais no coletivo.

Aparecem alunos falando individualmente sim, porém não identificamos pormenores deles como seus nomes. As únicas coisas que sabemos é a escola em que estudam. Eles falam sobre seus problemas, medos e ansiedades. Mas vemos eles mais como representantes de um todo.

Isso fica mais evidente quando é entrevistada uma aluna de um grupo de alunas que organizou uma grande aulão na escola nas vésperas do ENEM para auxiliar o máximo de alunos possíveis. Como dito antes, a escola é um personagem. E os alunos também. Embora cada um tenha sua própria história, eles têm em comum a busca por um futuro melhor.

Copacabana Filmes/Divulgação

Diálogo com jovens

O filme funciona como uma espécie de diálogo com os alunos, embora as perguntas nem sempre apareçam. Porém não é um diálogo apenas com os alunos que aparecem no filme, mas com todos os alunos do Brasil que assistirem a este filme.

Uma aluna diz que não se deve ter o pensamento de que eles têm a obrigação de passar no ENEM, pois existirão outras oportunidades. E isto serve para diversos outros aspectos da vida. Ninguém precisa ter vergonha por não passar no ENEM na primeira vez. Cada pessoa tem seu tempo certo de alcançar as coisas e descobrir o que quer.

O filme inclusive endossa isso, ao apresentar os nomes dos alunos ao final, com suas situações ao mostrar que alguns passaram no ENEM, outros passaram mas desistiram, outros ainda vão tentar e outros optaram por outros caminhos. Ao final fica a questão, como motivar nossos alunos a buscarem um futuro em meio a tantos problemas que passamos?

Por fim, “Atravessa a Vida” estreia neste dia 14/01 nos cinemas.

Confira o trailer:

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Cinema

Mostra Move Concreto! Dança e Documentário abre convocatória

De 06 a 19 de maio, evento recebe inscrições de filmes para compor a sua programação.

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LaPipa.

A dança unida ao documentário pode trazer diferentes reflexões sobre as produções de dança no país. Pode ser também um material educacional, ampliador de conhecimentos, performativo e gerador de novos desejos em relação a como se cria e se fala sobre a dança atualmente. Estes são os pontos de partida para a realização da mostra Move Concreto! Dança e documentário, que vai contar com documentários de dança, videodanças como registro histórico, documentários em que a dança é a protagonista das ideias e discussões.

A convocatória para composição da mostra vai receber inscrições de 06 a 19 de maio para seleção de 05 filmes – longas, médias ou curta metragens. As inscrições devem ser feitas através de formulário disponível no perfil do instagram @gcontemporaneodedancalivre.

Festival.
Foto: Divulgação.

Sobre o festival

Realizado pelo Grupo Contemporâneo de Dança Livre através do patrocínio do Fundo Municipal de Incentivo à Cultura de Contagem – Edital Movimenta Multilinguagens, o evento acontecerá de forma presencial e online em agosto de 2024. “A mostra Move Concreto! Dança e documentário se baseia na compreensão da videodança como um campo híbrido que busca a exploração do corpo em relação aos dispositivos técnicos, o espaço, o tempo e o movimento. Nessa perspectiva, busca-se por trabalhos que não sejam mera transposição da dança do palco para as telas, mas que a construção seja dentro das especificidades e possibilidades do campo, como nas relações entre corpo/câmera/edição”, explica, assim, Duna Dias, curadora da Mostra ao lado de Leonardo Augusto.

Poderão se inscrever, portanto, realizadores de todo o Brasil com idade acima de 18 anos. Cada proponente poderá apresentar até 2 filmes, sem limite de ano de realização e de tempo de duração. Os trabalhos devem ter relações com a linguagem documental – dança como documento, entrevistas, videodança documental e suas múltiplas variações dentro da união entre dança e documentário. Cada filme selecionado receberá um cachê para exibição no valor de R$ 800,00. Os filmes escolhidos serão divulgados até o final do mês de junho de 2024.

Serviço

CONVOCATÓRIA MOSTRA MOVE CONCRETO! DANÇA E DOCUMENTÁRIO

Período: 06 a 19 de maio de 2024

Local: através de formulário disponível no perfil do instagram @gcontemporaneodedancalivre

Inscrições gratuitas

A saber, quaisquer dúvidas ou esclarecimentos são através do e-mail: moveconcreto@gmail.com.

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