Literatura
Resenha | Tristão e Isolda em Cordel
Publicado
3 anos atrásem
Tristão e Isolda em Cordel é um livro delicioso. A obra é de Marco Haurélio, escritor, professor e divulgador da literatura de cordel. Ele desenvolve, desde 2005, um trabalho de recolha, catalogação, classificação e difusão de gêneros da tradição oral brasileira, com destaque para contos e cantos populares.
A princípio, importante ressaltar a edição da SESI-SP Editora que é primorosa e artística, bem caprichada mesmo tanto na bela arte de capa de Luciano Tasso, quanto na escolha do papel, cores e ilustrações.
Li em uma manhã. Sim. E não é por ser curto ou pequeno. É do tamanho certo. São mais de 90 páginas de uma obra que começa com uma introdução de algumas páginas explicando mais sobre o mito famoso que deu origem ao livro. Tristão, o cavaleiro perfeito, poeta e herói civilizador, defensor da honra e da liberdade, acaba caindo em um amor fatal do qual não consegue se livrar. Por outro lado, Isolda é a imagem da mulher ao mesmo tempo bela e misteriosa, herdeira dos segredos das fadas da mitologia da Irlanda, senhora dos filtros mágicos.
Esta lenda que vem do mundo celta foi recontada nos séculos XII e XIII, principalmente por poetas e prosadores. Posteriormente, sumiu por um tempo mas ressurgiu com Richard Wagner na clássica ópera de 1859.
Fluidez
A leitura é fluida. Tanto que não consegui parar, fui direto até o fim. Não queria largar até chegar na última página. Apesar de adorar ler, poucas vezes isso me aconteceu. Comer um livro dessa forma, com tamanha avidez. São tantos os sofrimentos e batalhas de Tristão, o qual parece que já nasce sem o direito de ser feliz. Sempre envolvido em confusões, com uma coragem sem igual, luta até o fim. E Isolda, com seus cabelos dourados, em um paixão venenosa e mágica, cheia de personalidade, autêntica e única.
O cordel eleva e renova o interesse por essa história tão famosa no mundo inteiro. Esse encantador estilo literário me levou cantando e torcendo pelo casal. Saudei o bravo Tristão e também me apaixonei por Isolda. Terminei querendo reler e agradecendo por beber desse cálice sagrado que é a literatura e suas tantas possibilidades.
Tristão e Isolda em Cordel é um livro que dá gosto de ter mãos e de ler. Ao mesmo tempo que homenageia essa epopeia universal e eterna, fornece um outro charme através do cordel, uma expressão popular que se caracteriza pela declamação de poemas. Dragões, javalis, gigantes e amores perdidos se encontram enlaçados em rimas pontuais.
É poesia pura que, por fim, perdura. Numa aura de doçura, num caminho trágico, com toques de ternura em um mundo mágico.
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Jornalista especializado em Jornalismo Cultural pela UERJ.
Literatura
‘Princesa Violeta’ | Resenha por Paty Lopes
Publicado
2 dias atrásem
23 de abril de 2024Por
paty2606Penso que essa leitura tem muito a dizer sobre o futuro das mulheres em nossa sociedade, principalmente diante do que estamos atravessando em todo o território brasileiro. Temos que lembrar que essa mulher que sofre violência hoje, um dia foi uma menina. O mesmo pode-se dizer do homem agressor. Ele também um dia foi um menino. Pergunto, portanto: qual foi a base educacional deles? O que leram? Qual o caminho que os orientaram a seguir um dia?
Embora tenhamos um livro com uma protagonista princesa, a leitura também educa o menino a respeitar os sentimentos de uma mulher. O que deveria acontecer quando uma mulher, por exemplo, resolve romper uma relação, seja esse o motivo que for? Assim, todavia, fica livre para viver a vida dela, o que sabemos que muitas vezes não acontece.
Diversidade
Veralinda Menezes é a autora do livro. Como mãe, traz aos leitores mirins a primeira princesa negra da literatura brasileira e o primeiro conto de fadas com personagens negros. Além disso, os descreve com delicadeza. Quando sua filha não pode ser princesa em uma brincadeira, devido ao seu tom de pele bombom, a autora percebeu a importância dessa comunicação. Assim, o livro chegou em 2008, e volta após 16 anos com uma edição especial, o que merece ser comemorado.
Interessante é como a autora trouxe a miscigenação brasileira, trazendo tons de pele ligados a doce de leite e chocolate, doces que crianças adoram.
Enredo
Um belo conto de fadas de muita ação, cujo protagonismo está na força da figura feminina e o toque de encantamento está na mistura de seres humanos, seres mágicos, reis, rainhas, fadas, guerreiros e piratas, heróis e heroínas que se juntam na luta do bem contra o mal.
Uma princesa guerreira à frente de um exército é revolucionário. Coloca, assim, as mulheres no imaginário coletivo desde a infância, em um espaço de poder que influencia a sociedade e suas futuras relações familiares, sociais e econômicas.
Focado na diversidade e no resgate de valores, também ensina o cuidado e o respeito à natureza e aos mais velhos. A inovação estética com personagens protagonistas negros, representando a maioria da população de um país nem tão distante, é um grande diferencial. Ele fica por conta do traço naturalista do talentoso ilustrador gaúcho Rogério M. Cardoso. Criado para ser um clássico da literatura, Princesa Violeta, em suas versões em prosa e em poema, encanta as crianças de todas as cores e de todas as idades do Brasil, na literatura, no teatro e na música.
O livro apresenta músicas da autora que também colam no ouvido, o velho chicletinho.
Por que ler o livro para uma criança?
Vivemos em um país de forte patriarcado. O machismo ainda permeia no seio da sociedade. Portanto, educar é necessário. Tentar romper essa cultura deve ser uma luta de todos. No livro, a princesa escuta que o pai dela queria um filho homem. Depois, um dos súditos, um dos chefes da guarda real entende que a princesa Violeta deveria se casar com ele, por ter a ensinado a lutar. São situações na contramão dos dias atuais, onde nós, mulheres, fazemos nossas opções, como a princesa do livro fez, no entanto, ainda pagamos um preço alto por nosso posicionamento.
Observei também que no livro não há questões raciais em pauta, apenas protagonistas negros. Inclusive, há príncipes de pele alva que tentam casar-se com a princesa, assim como antagonista negro também. A vida é mesmo assim, está tudo ilustrado através dos desenhos coloridos.
Conclusão
Levar crianças negras a entenderem que podem ser princesas e fadas é um bom trabalho de autoestima e merece ser exercitado todo o tempo. Não é mais possível aceitar somente a história da Cinderela da Disney – embora eu adore. Contudo. confesso que fiquei mais animada quando chegou a Pocahontas, pois esse desenho falava muito mais sobre mim.
Observei que a leitura tem mais de um desdobramento, o que penso ser bem diferente. Geralmente, o conflito é um só, mas Veralinda, como mulher, sabe que as nossas lutas são diversas.
Longe da bipolarização hierarquizante em preto e branco, como disse o professor Kabenguele Munanga, antropólogo, a autora entende mesmo do Brasil atual. Seguiu, paralela às estúpidas verdades adultas, a realidade da vida por meio de uma linguagem infantil apropriada, cheias de fadas e mágicas!
Ficha Técnica
PRINCESA VIOLETA
Autora: Veralinda Menezes
Editora: Editora Príncipes Negros
Preço: R$ 24,46
Onde encontrar: Amazon
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